segunda-feira, 24 de novembro de 2025

 

Frente as tarefas da casa espírita

 

As tarefas que abraçamos na casa espírita deveriam ser úteis para desenvolver em nós pelo menos dois fatores: melhor entendimento das nossas mazelas e recursos para combatê-las. Entretanto, não parece ser isso o que nos acontece.

Às vezes me pego pensando, quanto pode ter-nos custado para, na presente encarnação, termos abertos os olhos para os valores espirituais da existência, enterrados que foram bem fundo, pelo nosso orgulho e egoísmo de espíritos imperfeitos?  

Distraídos por milênios dos reais compromissos a que somos chamados a responder agora, ergamos as mãos ao Céu para bendizer a oportunidade sagrada e única de iluminação ao próprio caminho.

Se já sentimos o sopro renovador que a Doutrina Espírita nos apresenta, é justo recordar que, ante esta jubilosa sensação, o Mestre Jesus que veio para servir, não se viu rodeado por eminentes colaboradores que facilitassem sua tarefa no plano terreno, ao contrário, somente recebeu problemas para resolver e poucos companheiros mais próximos que, em verdade, lutavam contra suas próprias imperfeições e dificuldades.

Comparativamente, na instituição espírita que nos colocamos a servir, seremos ladeados por irmãos tanto difíceis quanto necessitados de auxílio como nós próprios e aqueles outros que se colocam como verdadeiros “professores” para nos ensinar paciência, compreensão e boa convivência. Onde se encontrem seres humanos se relacionando, aí estarão com suas imperfeições, virtudes, acertos e erros, sendo indispensável a procura pelo entendimento mútuo.

No ambiente do Centro Espírita, o conhecimento espírita deve ser um legado de responsabilidade que apresenta o caminho exato a que somos chamados a trilhar. 

Da Parábola dos Talentos, pelo lápis servidor de Chico Xavier, no livro Estante da Vida, o espírito Irmão X nos transmite sublime ensinamento, a partir do diálogo entre o Senhor e o servo que recebera apenas um talento, aqui designado como “Conhecimento Espírita” e que se apresenta ante o Senhor para devolvê-lo sem nenhum ganho adicional:

“Senhor, devolvo-te o Conhecimento Espírita, intocado e puro, qual o recebi de tua munificência... O Conhecimento Espírita é Luz, Senhor, e, com ele, aprendi que a tua Lei é obra dura demais, atribuindo a cada um conforme as próprias obras. De que modo usar uma lâmpada assim, brilhante e viva, se os homens na Terra estão divididos por pesadelos de inveja e ciúme, crueldade e ilusão? Como empregar o clarão de tua verdade sem ferir ou incomodar? E como incomodar ou ferir, sem trazer deploráveis consequências para mim próprio? ”

 

São sempre assim nossos debates íntimos com o Senhor. Portadores de um conhecimento diferenciado, relutamos e temos profundas dificuldades em aplicá-lo e ainda culpamos essa divina luz como causa potencial de nossos descaminhos.  

Mas continuemos no aprendizado da parábola:  

“O Senhor, entretanto, explicou, brandamente:                                - Não desconheces que te atribuí a luz da Verdade como sendo o bem maior de todos. Se ambos lhes faltava o discernimento que lhes podias ter ministrado, através do exemplo, de que fugiste por medo da responsabilidade de corrigir amando e trabalhar instruindo... Escondendo a riqueza que te emprestei, não só te perdeste pelo temor de sofrer e auxiliar, como também prejudicaste a obra deficitária de teus irmãos, cujos dias no mundo teriam alcançado maior rendimento no Bem Eterno, se houvessem recebido o quinhão de amor e serviço, humildade e paciência que lhes negaste!...

O Conhecimento Espírita se devidamente aplicado, muito embora, único talento na mão do mal servo, a partir da luz que faria em si próprio, refletiria luz nos outros, influenciando em melhor convivência em nossas agremiações espiritistas. O mal resultante, do bem que tenhamos deixado de fazer, é responsabilidade aumentada em nós.

E como nada mais restava ao servo infiel, a não ser apresentar seus últimos lamentos, como se nossos fossem, antes de atravessar os umbrais das esferas do arrependimento e remorso, aduziu:

- Senhor!... Senhor!... porquê? – soluçou o infeliz – porque tamanho rigor, se a tua Lei é de Misericórdia e Justiça. Então, os assessores do Senhor conduziam o servo desleal para as sombras do recomeço, esclarecendo a ele que a Lei, realmente, é disciplina de Misericórdia e Justiça, mas com uma diferença: para os ignorantes do dever a Justiça chega pelo alvará da Misericórdia; mas, para as criaturas conscientes das próprias obrigações, a Misericórdia chega pelo cárcere da Justiça.”

 

A noção de que em qualquer tarefa espiritual estamos todos interligados, deveria ser o suficiente para agirmos em consonância com os ensinos de Jesus, servindo melhor ao conjunto.

(*) Todos os grifos são meus.

Referências

(1) Irmão X. Estante da Vida. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 4ª ed. Rio de Janeiro. Editora FEB, 1969. 182p.


segunda-feira, 17 de novembro de 2025

 

Os Contrabandistas e os Sonolentos

 

Neste artigo recordo dois textos de peso e valorosas que nos devem conduzir a muitas reflexões sobre o conhecimento da vida espiritual que tem nos ensejado a leitura, estudo e reflexões do livro Nosso Lar, da lavra mediúnica de Chico Xavier pelo espírito André Luiz.

O primeiro é do próprio Emmanuel, considerado o coordenador da obra de Chico Xavier nos legou por suas mãos abençoadas. Diz assim:

(...) de há muito desejamos trazer ao nosso círculo espiritual alguém que possa transmitir a outrem o valor da experiência própria, com todos os detalhes possíveis à legítima compreensão da ordem que preside o esforço dos desencarnados laboriosos e bem-intencionados, nas esferas invisíveis ao olhar humano (...)

Analisando esta frase, é coerente deduzir claramente que André Luiz seguiu rigidamente uma orientação superior para nos transmitir “os detalhes possíveis”, ou seja, não pôde e nem deveria relatar tudo o que ele vivia e presenciava na colônia Nosso Lar. Houve sim uma filtragem dos seus escritos.

Por outras palavras, se vocês não acreditam no que foi possível ser-lhes revelado, imagine no que não foi?

Relembremos Jesus, que afirma em João 3, 10-12:

“Você é mestre em Israel e não entende essas coisas? Asseguro-lhe que nós falamos do que conhecemos e testemunhamos do que vimos, mas mesmo assim vocês não aceitam o nosso testemunho. Eu lhes falei de coisas terrenas e vocês não creram; como crerão se lhes falar de coisas celestiais?

 E continua o mentor de Chico Xavier no texto que prefacia a referida obra:

“Certamente que numerosos amigos sorrirão ao contato de determinadas passagens das narrativas. O inabitual, entretanto, causa surpresa em todos os tempos. (...) Todo leitor precisa analisar o que lê.”

Emmanuel previu o que se verificaria e ainda se observa naqueles muitos que se atiram à leitura de Nosso Lar com preconceitos estabelecidos e sem uma devida dose de bom senso. Ainda hoje, no final do primeiro quarto do século 21, muitos espíritas não só não acreditam, como também ironizam e chegam ao disparate de desacreditarem na obra mediúnica de Chico Xavier, levando de roldão tantos outros incautos, sob sua influência, nessa onda perniciosa.

O segundo texto trata-se de um trecho da mensagem de Neio Lúcio, datada de 5 de agosto de 1943, psicografada por Chico Xavier e que consta na obra Sementeira de luz. Afirma Neio Lúcio referindo-se aos escritos de André Luiz que compuseram a obra Nosso Lar:

Os elementos superiores não possuíam outro meio de trazer ao conhecimento dos leitores uma grande organização espiritual se não desse modo e creiam que as narrativas são pálidas no confronto com o real. Não existe vocabulário para a figuração de uma experiência tão adiantada quanto essa.

Confirmam, estas palavras, o que, no prefácio da obra, Emmanuel nos apresentou.

Bem, caro leitor deste despretensioso blog, onde desejo chegar, se, claro, você ainda continuar lendo estas linhas, é citar, para refletirmos sobre duas referências a certos espíritos recém desencarnados, feitas pelo irmão Tobias no capítulo 27 do livro Nosso Lar.

A respeito, temos desenvolvido desde o mês de agosto do ano de 2025, proveitoso grupo de estudo sobre esta obra nas dependências do Grupo Espírita da Fraternidade, cujas reuniões são gravadas e disponibilizadas no canal do YOU TUBE do Grupo (https://www.youtube.com/@GrupoEspiritaDaFraternidade ).

Voltando ao assunto, quando André Luiz, após um período de adaptação às novas condições do mundo, que ele desconhecia, decide converter sua estadia na colônia Nosso Lar em estação de estudo e aprendizagem para melhor servir, ele, dono de novo ânimo, passa a frequentar as Câmaras de Retificação no Ministério da Regeneração. Seu companheiro de tarefas, Tobias, lhe conduz até o que André descreveu como “vastas câmaras ligadas entre si e repletas de verdadeiros despojos humanos”.

Aqui vai a primeira referência.

Reuniam-se ali, numerosos espíritos recém desencarnados com as dolorosas impressões da morte física e, muita vez, sob o império de baixos pensamentos. Era uma triste reunião de muitos espíritos sofredores e torturados. Tobias então os classificou como “contrabandistas na vida eterna” .

Assim os caracterizou, quando encarnados na Terra:

“Acreditavam que as mercadorias propriamente terrestres teriam o mesmo valor nos planos do Espírito. Supunham que o prazer criminoso, o poder do dinheiro, a revolta contra a lei e a imposição dos caprichos atravessariam as fronteiras do túmulo e vigorariam aqui também, oferecendo lhes ensejos a disparates novos. Foram negociantes imprevidentes.”

Notem que Tobias afirma que estes irmãos acreditavam, quando na Terra, que as suas posses materiais, seu poder e influência financeira pudessem seguir com eles na vida além-túmulo. Recordo-me a mensagem que Allan Kardec inseriu nas páginas de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no segundo capítulo, Meu Reino não é deste mundo, transmitida por - Uma Rainha de França - datada de 1863, denominada Uma realeza terrestre:

“Que trouxe eu comigo da minha realeza terrena? Nada, absolutamente nada. E, como que para tornar mais terrível a lição, ela nem sequer me acompanhou até o túmulo! Rainha entre os homens, como rainha julguei que penetrasse no reino dos céus! Que desilusão!”

E Tobias acrescenta na sua análise:

“Esqueceram de cambiar as posses materiais em créditos espirituais”.

Essa é uma frase de profundidade impressionante. Ela nos diz que, da forma como temos administrado nossos bens materiais, os recursos que possuímos no mundo e que, na dependência do direcionamento da sua utilização, podem significar a conquista de valores espirituais.

Na segunda referência aos espíritos que André Luiz procurava analisar após o desenlace da carne, Tobias o conduz, juntamente com Narcisa, a uma outra câmara em forma de grande enfermaria. Lá se depara com 32 homens que permaneciam inertes em leitos muito baixos, evidenciando apenas leves movimentos de respiração, padecendo de um sono pesado.

“Chamamos-lhes crentes negativos. Ao invés de aceitarem o Senhor, eram vassalos intransigentes do egoísmo; ao invés de crerem na vida, no movimento, no trabalho, admitiam somente o nada, a imobilidade e a vitória do crime. Converteram a experiência humana em constante preparação para um grande sono e, como não tinham qualquer ideia do bem, a serviço da coletividade, não há outro recurso senão dormirem longos anos, em pesadelos sinistros.

Percebam que, se no caso anterior, havia uma crença no pós morte fundada na possibilidade, ainda que equivocada, do predomínio dos poderes transitórios no mundo espiritual, neste segundo caso, o que o caracteriza é a descrença, a nulidade, negação da vida após morte.   

Situações distintas, uma de crença, porém em algo totalmente improvável, enquanto a outra, o nada, a nulidade após a morte, conduzindo almas a profundo sono no atendimento ao que, consciente ou inconscientemente, construíram a si próprios.

Procure analisar e refletir o porquê Emmanuel no prefácio da obra Nosso Lar e Neio Lucio no livro Sementeira de Luz, afirmaram que muitas informações, a respeito de Nosso Lar, não puderam ser transmitidas à época. Oitenta e um anos após sua publicação (1944) ainda há irmãos que desacreditam das informações ou ainda não a entenderam, por falta de conhecimento ou por conveniência. 

Iluminada Doutrina Espírita que nos clareia o caminho que por muitas existências insistimos em trafegar no escuro.

Salve Allan Kardec, missionário de Jesus Cristo, que descortinou nossas vistas ao mundo espiritual.

Bendito Chico Xavier, lídimo apóstolo do Cristo, na revivescência do cristianismo praticado. 

Ave Cristo!   


 (*) Todos os grifos são meus.

Referências

(1) Luiz, André. Nosso Lar. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 45ª ed. Brasília. Editora FEB, 1944. 281p.

(2) Neio Lúcio. Sementeira de Luz. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1ª ed. Belo Horizonte. Editora Vinha de Luz, 2018. 669p.

(3) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 131ª ed. Brasília. Editora FEB, 1944. 410p.

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

 

A família de Dona Laura

 

Os laços afetivos, aqui, são mais belos e mais fortes. O amor, meu amigo, é o pão divino das almas, o pábulo sublime dos corações.

Dona Laura – Nosso Lar

 

Interessantes aspectos da relação familiar poderemos encontrar observando cuidadosamente a situação da família de Dona Laura, personagem do livro Nosso Lar. Denominemos assim, àquela que, por meio de Lísias, filho de Dona Laura, albergou André Luiz após receber alta do Hospital.

Recordemos que André Luiz chegou na colônia Nosso Lar, após passar um tempo na dimensão mais densa do Umbral, e não encontrou nenhum parente consanguíneo para dividir um lar. Sobre sua mãe, foi informado que ela residia em dimensões mais altas e seu pai ainda vagava no Umbral, em sofrimento. Como vemos, era um verdadeiro sem teto e sem família, no que se refere à parentela corporal.

Após a alta hospitalar, como dizíamos, Lísias, o servidor da saúde que o cuidou, assim se referiu a Clarêncio sobre André:

“estimaria recebê-lo em nossa casa, enquanto perdurar o curso de observações; lá, minha mãe o trataria como filho.”

Quando conhece a mãe de Lísias, ela diz que seria para ele, André, “uma irmã com funções maternais”. Interessante notarmos este acolhimento muito carinhoso a um “desconhecido”, pois não há menções claras no livro que fossem espíritos que já se conhecessem. Este fato nos é muito significante, pois Nosso Lar é uma colônia essencialmente de trabalho e realização e que acolhe espíritos recém desencarnados da Terra. Já vão longe os tempos em que este costume se fazia aqui na Terra. Hoje em dia uma atitude dessa, infelizmente, é praticamente impensada e temerosa.

Bem, falemos da família de Dona Laura.

Haviam vivido em antiga cidade do estado do Rio de Janeiro; e, em casa, residiam duas irmãs, Iolanda e Judite, além da neta, Eloisa que havia retornado há mais ou menos quinze dias da vida física em decorrência de uma tuberculose e em breve tempo, Tereza , filha de Laura e mãe de Eloisa também retornaria da Terra. Mencionamos também Ricardo, que na Terra fora marido de Laura e que desencarnou dezoito anos antes da esposa, período no qual, trabalhou em Nosso Lar conquistando o direito de possuir uma moradia.

Portanto, um lar em Nosso Lar formado por Dona Laura, suas irmãs Judite e Iolanda, o filho Lísias e a neta Eloisa, ao qual em breve, se juntaria Teresa, mãe de Eloisa.

Explicada a situação da família de Dona Laura, podemos então fazer nossas reflexões.

Temos aprendido que a vida aqui na Terra é uma cópia – bem pálida – da vida no mundo espiritual e não ao contrário, como muitos pensam. Desta forma, a constituição da família também.

Veja o leitor deste artigo que da mesma maneira que em nossa família consanguínea, pela desencarnação, alguns membros, sejam eles, pai, mãe, irmãos, etc, demandam a pátria espiritual, do lado de lá, também partem nossos familiares para a reencarnação, como no caso de Ricardo que já se encontrava encarnado com quatro anos de idade, na época que os fatos do livro foram narrados. Podemos até deduzir que, se ele for longevo, estando com quatro anos no ano de 1943, hoje deve estar com 86 de idade. Acrescenta-se que, segundo informação da própria Dona Laura, em breve, ela também reencarnaria e voltaria a se unir a Ricardo, o que também nos faz pensar que o casal possa, nos dias atuais, estar vivenciando suas experiências aqui na Terra como idosos. Enquanto isso, em Nosso Lar, Lísias e sua irmã Teresa, com a filha Eloisa e as tias Judite e Iolanda, compõem o novo lar, claro, com saudades de Ricardo e Dona Laura, residentes na Terra.

Podemos ainda nos referir à situação do pai de André Luiz, Laerte, que há doze anos se encontrava em uma zona de trevas compactas no Umbral e que não percebia a presença espiritual da esposa e nem de amigos que pretendia lhe auxiliar. Notem então que, embora residindo na mesma dimensão como desencarnados, Laerte e André, pai e filho na Terra, pelo menos por aquele período, não puderam se ver. Assim, pode acontecer também na Terra, quando familiares residem em locais muito distantes, como por exemplo em diferentes países e tem dificuldades de se reverem.

Desejo dizer que da mesma forma como sentimos falta dos que aqui partem pela desencarnação, os de lá, com a reencarnação deixam familiares que ficam saudosos, formando-se uma relação bem semelhante entre o que vive a parentela corporal e a espiritual. Creio ainda mais que, sob este ponto de vista, seja muito natural a “morte” dos espíritos, no mundo espiritual tendo como um dos destinos reencarnar na Terra. Para mim isso é muito claro, natural, lógico e necessário.

Agora, como é que nós encarnados, especialmente os espíritas, vamos entender este processo e mais ainda, como iremos denominá-lo, será problema nosso. Ao invés do termo “morte” de um espírito desencarnado, que nos causa estranheza por ele já se encontrar desencarnado, podemos usar o termo “transposição perispiritual”, o qual, salvo engano meu, foi cunhado pelo Dr. Inácio Ferreira. André Luiz trata especialmente desta questão da “morte” de espíritos desencarnados, no livro Os Mensageiros no capítulo vigésimo denominado Defesas contra o mal.

Os livros estão por aí, aguardando que suas lições sejam estudadas e refletidas. Neste aspecto, cito novamente o Dr. Inácio Ferreira que, através da mediunidade psicográfica de Carlos Baccelli, tem sido fundamental para melhor entendimento e elucidação das obras de Chico Xavier, notadamente as da lavra de André Luiz.

Aliás, diga-se de passagem, neste ano de 2025, completam 25 anos da parceria do Dr. Inácio com o médium uberabense Baccelli. São, até agora, 62 duas obras substanciosas, com muitas revelações e informações, além, é claro, das explicações que nos chamam a atenção para aspectos que havíamos lido há tempo nas obras de André Luiz e não havíamos atentado-nos propriamente.

(*) Todos os grifos são meus.

Referências

(1) Luiz, André. Nosso Lar. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 45ª ed. Brasília. Editora FEB, 1944. 281p.

(2) Luiz, André.  Os Mensageiros. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 33ª ed. Brasília. Editora FEB, 1944. 268p.


segunda-feira, 3 de novembro de 2025

 

Refletindo sobre o livre arbítrio

“Se ainda não conheces os ensinamentos do Cristo, estás livre para fazer o que gostas. Entretanto, se já aceitastes as lições de Jesus, estás livre para fazer o que deves.” Emmanuel

 Dr. Inácio Ferreira é categórico em afirmar em várias de sua rica obra psicografada pelo médium Carlos Baccelli, e nós fazemos coro com ele, que em nosso passado espiritual predomina “sucata”. Quem se imagina detentor de muitos méritos e, portanto, aguarda muitos privilégios aqui na Terra, sugiro que vá tirando o cavalinho da chuva. Com a lógica exceção de praxe de alguns companheiros encarnados que assumiram há tempos, as rédeas de sua própria destinação ao colocarem, de forma concreta, sentido para suas existências na Terra fincados nas lições de Jesus, nós outros, no estágio evolutivo em que nos achamos, raríssimos os que não tenhamos débitos a resgatar.

Ainda por muitas encarnações, infelizmente, a “sucata” nos será um peso enorme, que sem esforços ingentes no bem, não lograremos reciclá-la em bons serviços prestados.

Se o planeta que habitamos é de expiações e provas – sem dúvida mais expiação que prova – encontramo-nos no lugar certo, respondendo por deliberações infelizes do pretérito. Em outras palavras, como nos ensina Emmanel:

 

Em se tratando de livre arbítrio, somos senhores na resolução adotada, mas fatalmente, escravos nas consequências.”

 

Todos trazemos na intimidade do próprio ser a dor, a aflição, o problema que nem sempre é solucionável à maneira que gostaríamos que fosse e permanece assim tal qual a iluminada assertiva de Paulo na epístola aos Corintios 12; 7-11.

 

E, para que me não exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carnea saber, um mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de não me exaltar. (...) Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando estou fraco, então, sou forte.

O regenerado de Damasco nos concita a vislumbrar nas dificuldades do caminho, as alegrias de ter a oportunidade de resgatar nossos erros milenares, os quais estão imantados em nosso íntimo, atendendo os ditames da lei de ação e reação. Jesus ressaltou que bem-aventurado o aflito seria aquele que fizesse da dor um instrumento para a elevação de si mesmo, dando ainda graças a Deus por lhe ofertar a oportunidade do refazimento reparador do espírito. Aliás, semelhante atitude do cristão é uma boa régua para medir o tamanho da consciência prática frente os dissabores cotidianos.

Na questão 843 de O Livro dos Espíritos, Kardec realiza um questionamento que nos parece a princípio, muito simples, cuja resposta encaixa muito bem em nossas reflexões deste artigo:

Tem o homem o livre arbítrio de seus atos?

“Pois que tem a liberdade de pensar, tem igualmente a de obrar. Sem o livre arbítrio, o homem seria máquina.

 

Entendo que, basicamente, o livre-arbítrio, será sempre sumamente importante para todo empreendimento de regeneração que decidamos realizar a fim de reparar nossas imperfeições. A vontade vem imediatamente após, porém decidir por adotar um novo caminho, fazendo luz, ou permanecer no mesmo, reprisando erros, será sempre uma decisão do próprio espírito na sua jornada evolutiva.

E sobre este aspecto não cabe a ninguém interferir. O próprio Cristo acatou as indevidas decisões de Pedro, Judas, Pilatos, Herodes e mesmo após sua crucificação, entendeu Tomé em seu petitório descabido. O médium Chico Xavier, que com sua vida exemplar, transcendeu como “o homem” Chico Xavier, revelou-nos importante ensinamento:

“Uma das coisas que sempre aprendi com os Benfeitores Espirituais é não tolher o livre arbítrio de ninguém; os que viveram na minha companhia sempre tiveram liberdade para fazer o que quiseram…”

Encerramos nossas considerações registrando elevado ensino que Emmanuel nos propicia no livro O Essencial, na lição: As tres escolhas. 

“ O discípulo apresentou-se ao orientador cristão e indagou:
— Instrutor, em sua opinião, qual é a lei que englobaria, em si todas as Leis de Deus?

O interpelado respondeu:

— A Lei do Bem.

— Entretanto — acrescentou o aprendiz — quem diz “lei” refere-se a clima de ação que todos devemos observar.
— Isto mesmo.

— Nesse caso, onde ficaria o livre-arbítrio?

O orientador meditou alguns momentos e considerou:
— O livre-arbítrio é concedido a todas as criaturas conscientes, porquanto, “a cada Espírito será dado o que lhe cabe receber, conforme as próprias obras.” O Criador, porém, não é autor de violência. Por isso, até mesmo ante a Lei do Bem, a pessoa humana dispõe de três opções distintasPoderemos segui-la, parar na senda evolutiva, de modo a não segui-la, ou afastarmo-nos dela pelos despenhadeiros do mal.

— Instrutor amigo, esclareça, por obséquio, a que resultados nos levam as três escolhas referidas?

O mentor aclarou, com serenidade:

— Os que observam a Lei do Bem se encaminham para as Esferas Superiores;  os que preferem descansar em caminho, por vezes se demoram muito tempo na inércia, retomando a marcha com muitas dificuldades para a readaptação às tarefas da jornada; e os que se distanciam voluntariamente, nos resvaladouros do desequilíbrio, muitas vezes, gastam séculos, presos nos princípios de causa e efeito, até que, um dia, deliberem aceitar a própria renovação…

Compreendeu?

O aprendiz fez leve movimento afirmativo e começou a pensar.”

Caros leitores, comecemos a pensar também.

Todos os grifos são nossos.

Referências:

(1) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 67ª ed.  Brasília. Editora FEB, 1944. 494p.

(2) Emmanuel. O Essencial. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1ª ed. Editora Cultura Espírita União, 1986. 96p.

  Médium e Mediunidade   Questionados sobre que definição se pode dar dos Espíritos, na questão 76 de O Livro dos Espíritos, Kardec obte...