Os Contrabandistas e os Sonolentos
Neste
artigo recordo dois textos de peso e valorosas que nos devem conduzir a muitas reflexões
sobre o conhecimento da vida espiritual que tem nos ensejado a leitura, estudo
e reflexões do livro Nosso Lar, da lavra mediúnica de Chico Xavier pelo espírito
André Luiz.
O
primeiro é do próprio Emmanuel, considerado o coordenador da obra de Chico
Xavier nos legou por suas mãos abençoadas. Diz assim:
(...) de há muito desejamos trazer ao
nosso círculo espiritual alguém que possa transmitir a outrem o valor da
experiência própria, com todos os detalhes possíveis à legítima
compreensão da ordem que preside o esforço dos desencarnados laboriosos e
bem-intencionados, nas esferas invisíveis ao olhar humano (...)
Analisando
esta frase, é coerente deduzir claramente que André Luiz seguiu rigidamente uma
orientação superior para nos transmitir “os
detalhes possíveis”, ou seja, não pôde e nem deveria relatar tudo o que ele
vivia e presenciava na colônia Nosso Lar.
Houve sim uma filtragem dos seus escritos.
Por
outras palavras, se vocês não acreditam no que foi possível ser-lhes revelado, imagine
no que não foi?
Relembremos Jesus, que afirma em João 3, 10-12:
“Você é
mestre em Israel e não entende essas coisas? Asseguro-lhe que nós falamos do que conhecemos e
testemunhamos do que vimos, mas mesmo assim vocês não aceitam o nosso
testemunho. Eu lhes falei de coisas terrenas e vocês
não creram; como crerão se lhes falar de coisas celestiais?”
E continua o mentor de Chico Xavier no texto
que prefacia a referida obra:
“Certamente que numerosos amigos
sorrirão ao contato de determinadas passagens das narrativas. O inabitual,
entretanto, causa surpresa em todos os tempos. (...) Todo leitor precisa
analisar o que lê.”
Emmanuel
previu o que se verificaria e ainda se observa naqueles muitos que se atiram à
leitura de Nosso Lar com preconceitos estabelecidos e sem uma devida dose de
bom senso. Ainda hoje, no final do primeiro quarto do século 21, muitos
espíritas não só não acreditam, como também ironizam e chegam ao disparate de
desacreditarem na obra mediúnica de Chico Xavier, levando de roldão tantos
outros incautos, sob sua influência, nessa onda perniciosa.
O
segundo texto trata-se de um trecho da mensagem de Neio Lúcio, datada de 5 de
agosto de 1943, psicografada por Chico Xavier e que consta na obra Sementeira de luz. Afirma Neio Lúcio
referindo-se aos escritos de André Luiz que compuseram a obra Nosso Lar:
Os
elementos superiores não possuíam outro meio de trazer ao conhecimento dos
leitores uma grande organização espiritual se não desse modo e creiam que
as narrativas são pálidas no confronto com o real. Não existe
vocabulário para a figuração de uma experiência tão adiantada quanto essa.
Confirmam, estas
palavras, o que, no prefácio da obra, Emmanuel nos apresentou.
Bem, caro leitor
deste despretensioso blog, onde desejo chegar, se, claro, você ainda continuar
lendo estas linhas, é citar, para refletirmos sobre duas referências a certos
espíritos recém desencarnados, feitas pelo irmão Tobias no capítulo 27 do livro
Nosso Lar.
A respeito,
temos desenvolvido desde o mês de agosto do ano de 2025, proveitoso grupo de
estudo sobre esta obra nas dependências do Grupo Espírita da Fraternidade,
cujas reuniões são gravadas e disponibilizadas no canal do YOU TUBE do Grupo (https://www.youtube.com/@GrupoEspiritaDaFraternidade
).
Voltando ao assunto,
quando André Luiz, após um período de adaptação às novas condições do mundo,
que ele desconhecia, decide converter sua estadia na colônia Nosso Lar em
estação de estudo e aprendizagem para melhor servir, ele, dono de novo ânimo,
passa a frequentar as Câmaras de Retificação no Ministério da Regeneração. Seu
companheiro de tarefas, Tobias, lhe conduz até o que André descreveu como “vastas câmaras ligadas entre si e
repletas de verdadeiros despojos humanos”.
Aqui vai a
primeira referência.
Reuniam-se ali,
numerosos espíritos recém desencarnados com as dolorosas impressões da
morte física e, muita vez, sob o império de baixos pensamentos. Era uma triste
reunião de muitos espíritos sofredores e torturados. Tobias então os
classificou como “contrabandistas na vida eterna” .
Assim os caracterizou, quando encarnados na Terra:
“Acreditavam que as mercadorias
propriamente terrestres
teriam o mesmo valor nos planos do Espírito. Supunham que o prazer criminoso,
o poder do dinheiro, a revolta contra a lei e a imposição dos
caprichos atravessariam as fronteiras do túmulo e vigorariam aqui também,
oferecendo lhes ensejos a disparates novos. Foram negociantes imprevidentes.”
Notem que Tobias afirma que estes irmãos
acreditavam, quando na Terra, que as suas posses materiais, seu poder e
influência financeira pudessem seguir com eles na vida além-túmulo. Recordo-me
a mensagem que Allan Kardec inseriu nas páginas de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”,
no segundo capítulo, Meu Reino não é deste mundo, transmitida por - Uma Rainha
de França - datada de 1863, denominada Uma realeza terrestre:
“Que trouxe eu comigo da minha realeza
terrena? Nada, absolutamente nada. E, como que para tornar mais terrível a
lição, ela nem sequer me acompanhou até o túmulo! Rainha entre os homens, como
rainha julguei que penetrasse no reino dos céus! Que desilusão!”
E
Tobias acrescenta na sua análise:
“Esqueceram
de cambiar as posses materiais em créditos espirituais”.
Essa é uma frase de profundidade
impressionante. Ela nos diz que, da forma como temos administrado nossos bens
materiais, os recursos que possuímos no mundo e que, na dependência do
direcionamento da sua utilização, podem significar a conquista de valores
espirituais.
Na segunda referência
aos espíritos que André Luiz procurava analisar após o desenlace da carne, Tobias
o conduz, juntamente com Narcisa, a uma outra câmara em forma de grande enfermaria.
Lá se depara com 32 homens que permaneciam inertes em leitos muito
baixos, evidenciando apenas leves movimentos de respiração, padecendo de um
sono pesado.
“Chamamos-lhes crentes negativos.
Ao invés de aceitarem o Senhor, eram vassalos intransigentes do egoísmo; ao
invés de crerem na vida, no movimento, no trabalho, admitiam somente o nada,
a imobilidade e a vitória do crime. Converteram a experiência humana em
constante preparação para um grande sono e, como não tinham qualquer ideia
do bem, a serviço da coletividade, não há outro recurso senão dormirem
longos anos, em pesadelos sinistros.
Percebam que, se no caso anterior, havia uma
crença no pós morte fundada na possibilidade, ainda que equivocada, do
predomínio dos poderes transitórios no mundo espiritual, neste segundo caso, o
que o caracteriza é a descrença, a nulidade, negação da vida após morte.
Situações distintas, uma de crença, porém em
algo totalmente improvável, enquanto a outra, o nada, a nulidade após a morte,
conduzindo almas a profundo sono no atendimento ao que, consciente ou
inconscientemente, construíram a si próprios.
Procure analisar e refletir o porquê Emmanuel no prefácio da obra Nosso
Lar e Neio Lucio no livro Sementeira de Luz, afirmaram que muitas informações,
a respeito de Nosso Lar, não puderam ser transmitidas à época. Oitenta e um
anos após sua publicação (1944) ainda há irmãos que desacreditam das
informações ou ainda não a entenderam, por falta de conhecimento ou por
conveniência.
Iluminada Doutrina Espírita que nos clareia o caminho que por muitas
existências insistimos em trafegar no escuro.
Salve Allan Kardec, missionário de Jesus Cristo, que descortinou nossas
vistas ao mundo espiritual.
Bendito Chico Xavier,
lídimo apóstolo do Cristo, na revivescência do cristianismo praticado.
Ave Cristo!
(*) Todos os grifos são meus.
Referências
(1) Luiz, André. Nosso Lar. Psicografado
por Francisco Cândido Xavier. 45ª ed. Brasília. Editora FEB, 1944. 281p.
(2) Neio Lúcio. Sementeira de Luz. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1ª
ed. Belo Horizonte. Editora Vinha de Luz, 2018. 669p.
(3) Kardec, Allan. O Evangelho Segundo
o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro. 131ª ed. Brasília. Editora
FEB, 1944. 410p.
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