Frente
as tarefas da casa espírita
As tarefas que abraçamos na casa espírita
deveriam ser úteis para desenvolver em nós pelo menos dois fatores: melhor
entendimento das nossas mazelas e recursos para combatê-las. Entretanto, não
parece ser isso o que nos acontece.
Às
vezes me pego pensando, quanto pode ter-nos custado para, na presente
encarnação, termos abertos os olhos para os valores espirituais da existência,
enterrados que foram bem fundo, pelo nosso orgulho e egoísmo de espíritos
imperfeitos?
Distraídos por milênios dos reais compromissos
a que somos chamados a responder agora, ergamos as mãos ao Céu para bendizer a
oportunidade sagrada e única de iluminação ao próprio caminho.
Se
já sentimos o sopro renovador que a Doutrina Espírita nos apresenta, é justo
recordar que, ante esta jubilosa sensação, o Mestre Jesus que veio para servir,
não se viu rodeado por eminentes colaboradores que facilitassem sua tarefa no
plano terreno, ao contrário, somente recebeu problemas para resolver e poucos
companheiros mais próximos que, em verdade, lutavam contra suas próprias
imperfeições e dificuldades.
Comparativamente,
na instituição espírita que nos colocamos a servir, seremos ladeados por irmãos
tanto difíceis quanto necessitados de auxílio como nós próprios e aqueles
outros que se colocam como verdadeiros “professores” para nos ensinar
paciência, compreensão e boa convivência. Onde se encontrem seres humanos se
relacionando, aí estarão com suas imperfeições, virtudes, acertos e erros,
sendo indispensável a procura pelo entendimento mútuo.
No
ambiente do Centro Espírita, o conhecimento espírita deve ser um legado de
responsabilidade que apresenta o caminho exato a que somos chamados a trilhar.
Da
Parábola dos Talentos, pelo lápis servidor de Chico Xavier, no livro Estante da
Vida, o espírito Irmão X nos transmite sublime ensinamento, a partir do diálogo
entre o Senhor e o servo que recebera apenas um talento, aqui designado como
“Conhecimento Espírita” e que se apresenta ante o Senhor para devolvê-lo sem
nenhum ganho adicional:
“Senhor, devolvo-te o
Conhecimento Espírita, intocado e puro, qual o recebi de tua munificência... O
Conhecimento Espírita é Luz, Senhor, e, com ele, aprendi que a tua Lei é obra
dura demais, atribuindo a cada um conforme as próprias obras. De que modo usar
uma lâmpada assim, brilhante e viva, se os homens na Terra estão divididos por
pesadelos de inveja e ciúme, crueldade e ilusão? Como empregar o clarão de tua
verdade sem ferir ou incomodar? E como incomodar ou ferir, sem trazer
deploráveis consequências para mim próprio? ”
São sempre assim nossos
debates íntimos com o Senhor. Portadores de um conhecimento diferenciado,
relutamos e temos profundas dificuldades em aplicá-lo e ainda culpamos essa divina
luz como causa potencial de nossos descaminhos.
Mas continuemos no aprendizado da parábola:
“O Senhor, entretanto,
explicou, brandamente: - Não
desconheces que te atribuí a luz da Verdade como sendo o bem maior de todos. Se
ambos lhes faltava o discernimento que lhes podias ter ministrado, através do
exemplo, de que fugiste por medo da responsabilidade de corrigir amando e
trabalhar instruindo... Escondendo a riqueza que te emprestei, não só te
perdeste pelo temor de sofrer e auxiliar, como também prejudicaste a obra
deficitária de teus irmãos, cujos dias no mundo teriam alcançado maior
rendimento no Bem Eterno, se houvessem recebido o quinhão de amor e serviço,
humildade e paciência que lhes negaste!...
O Conhecimento Espírita se
devidamente aplicado, muito embora, único talento na mão do mal servo, a partir
da luz que faria em si próprio, refletiria luz nos outros, influenciando em melhor
convivência em nossas agremiações espiritistas. O mal resultante, do bem que
tenhamos deixado de fazer, é responsabilidade aumentada em nós.
E como nada mais restava ao
servo infiel, a não ser apresentar seus últimos lamentos, como se nossos
fossem, antes de atravessar os umbrais das esferas do arrependimento e remorso,
aduziu:
- Senhor!... Senhor!...
porquê? – soluçou o infeliz – porque tamanho rigor, se a tua Lei é de
Misericórdia e Justiça. Então, os assessores do Senhor conduziam o servo
desleal para as sombras do recomeço, esclarecendo a ele que a Lei, realmente, é
disciplina de Misericórdia e Justiça, mas com uma diferença: para os
ignorantes do dever a Justiça chega pelo alvará da Misericórdia; mas, para as
criaturas conscientes das próprias obrigações, a Misericórdia chega pelo
cárcere da Justiça.”
A noção de que em qualquer
tarefa espiritual estamos todos interligados, deveria ser o suficiente para agirmos
em consonância com os ensinos de Jesus, servindo melhor ao conjunto.
(*) Todos os grifos
são meus.
Referências
(1) Irmão X. Estante da Vida. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 4ª
ed. Rio de Janeiro. Editora FEB, 1969. 182p.
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