segunda-feira, 24 de novembro de 2025

 

Frente as tarefas da casa espírita

 

As tarefas que abraçamos na casa espírita deveriam ser úteis para desenvolver em nós pelo menos dois fatores: melhor entendimento das nossas mazelas e recursos para combatê-las. Entretanto, não parece ser isso o que nos acontece.

Às vezes me pego pensando, quanto pode ter-nos custado para, na presente encarnação, termos abertos os olhos para os valores espirituais da existência, enterrados que foram bem fundo, pelo nosso orgulho e egoísmo de espíritos imperfeitos?  

Distraídos por milênios dos reais compromissos a que somos chamados a responder agora, ergamos as mãos ao Céu para bendizer a oportunidade sagrada e única de iluminação ao próprio caminho.

Se já sentimos o sopro renovador que a Doutrina Espírita nos apresenta, é justo recordar que, ante esta jubilosa sensação, o Mestre Jesus que veio para servir, não se viu rodeado por eminentes colaboradores que facilitassem sua tarefa no plano terreno, ao contrário, somente recebeu problemas para resolver e poucos companheiros mais próximos que, em verdade, lutavam contra suas próprias imperfeições e dificuldades.

Comparativamente, na instituição espírita que nos colocamos a servir, seremos ladeados por irmãos tanto difíceis quanto necessitados de auxílio como nós próprios e aqueles outros que se colocam como verdadeiros “professores” para nos ensinar paciência, compreensão e boa convivência. Onde se encontrem seres humanos se relacionando, aí estarão com suas imperfeições, virtudes, acertos e erros, sendo indispensável a procura pelo entendimento mútuo.

No ambiente do Centro Espírita, o conhecimento espírita deve ser um legado de responsabilidade que apresenta o caminho exato a que somos chamados a trilhar. 

Da Parábola dos Talentos, pelo lápis servidor de Chico Xavier, no livro Estante da Vida, o espírito Irmão X nos transmite sublime ensinamento, a partir do diálogo entre o Senhor e o servo que recebera apenas um talento, aqui designado como “Conhecimento Espírita” e que se apresenta ante o Senhor para devolvê-lo sem nenhum ganho adicional:

“Senhor, devolvo-te o Conhecimento Espírita, intocado e puro, qual o recebi de tua munificência... O Conhecimento Espírita é Luz, Senhor, e, com ele, aprendi que a tua Lei é obra dura demais, atribuindo a cada um conforme as próprias obras. De que modo usar uma lâmpada assim, brilhante e viva, se os homens na Terra estão divididos por pesadelos de inveja e ciúme, crueldade e ilusão? Como empregar o clarão de tua verdade sem ferir ou incomodar? E como incomodar ou ferir, sem trazer deploráveis consequências para mim próprio? ”

 

São sempre assim nossos debates íntimos com o Senhor. Portadores de um conhecimento diferenciado, relutamos e temos profundas dificuldades em aplicá-lo e ainda culpamos essa divina luz como causa potencial de nossos descaminhos.  

Mas continuemos no aprendizado da parábola:  

“O Senhor, entretanto, explicou, brandamente:                                - Não desconheces que te atribuí a luz da Verdade como sendo o bem maior de todos. Se ambos lhes faltava o discernimento que lhes podias ter ministrado, através do exemplo, de que fugiste por medo da responsabilidade de corrigir amando e trabalhar instruindo... Escondendo a riqueza que te emprestei, não só te perdeste pelo temor de sofrer e auxiliar, como também prejudicaste a obra deficitária de teus irmãos, cujos dias no mundo teriam alcançado maior rendimento no Bem Eterno, se houvessem recebido o quinhão de amor e serviço, humildade e paciência que lhes negaste!...

O Conhecimento Espírita se devidamente aplicado, muito embora, único talento na mão do mal servo, a partir da luz que faria em si próprio, refletiria luz nos outros, influenciando em melhor convivência em nossas agremiações espiritistas. O mal resultante, do bem que tenhamos deixado de fazer, é responsabilidade aumentada em nós.

E como nada mais restava ao servo infiel, a não ser apresentar seus últimos lamentos, como se nossos fossem, antes de atravessar os umbrais das esferas do arrependimento e remorso, aduziu:

- Senhor!... Senhor!... porquê? – soluçou o infeliz – porque tamanho rigor, se a tua Lei é de Misericórdia e Justiça. Então, os assessores do Senhor conduziam o servo desleal para as sombras do recomeço, esclarecendo a ele que a Lei, realmente, é disciplina de Misericórdia e Justiça, mas com uma diferença: para os ignorantes do dever a Justiça chega pelo alvará da Misericórdia; mas, para as criaturas conscientes das próprias obrigações, a Misericórdia chega pelo cárcere da Justiça.”

 

A noção de que em qualquer tarefa espiritual estamos todos interligados, deveria ser o suficiente para agirmos em consonância com os ensinos de Jesus, servindo melhor ao conjunto.

(*) Todos os grifos são meus.

Referências

(1) Irmão X. Estante da Vida. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 4ª ed. Rio de Janeiro. Editora FEB, 1969. 182p.


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