segunda-feira, 3 de novembro de 2025

 

Refletindo sobre o livre arbítrio

“Se ainda não conheces os ensinamentos do Cristo, estás livre para fazer o que gostas. Entretanto, se já aceitastes as lições de Jesus, estás livre para fazer o que deves.” Emmanuel

 Dr. Inácio Ferreira é categórico em afirmar em várias de sua rica obra psicografada pelo médium Carlos Baccelli, e nós fazemos coro com ele, que em nosso passado espiritual predomina “sucata”. Quem se imagina detentor de muitos méritos e, portanto, aguarda muitos privilégios aqui na Terra, sugiro que vá tirando o cavalinho da chuva. Com a lógica exceção de praxe de alguns companheiros encarnados que assumiram há tempos, as rédeas de sua própria destinação ao colocarem, de forma concreta, sentido para suas existências na Terra fincados nas lições de Jesus, nós outros, no estágio evolutivo em que nos achamos, raríssimos os que não tenhamos débitos a resgatar.

Ainda por muitas encarnações, infelizmente, a “sucata” nos será um peso enorme, que sem esforços ingentes no bem, não lograremos reciclá-la em bons serviços prestados.

Se o planeta que habitamos é de expiações e provas – sem dúvida mais expiação que prova – encontramo-nos no lugar certo, respondendo por deliberações infelizes do pretérito. Em outras palavras, como nos ensina Emmanel:

 

Em se tratando de livre arbítrio, somos senhores na resolução adotada, mas fatalmente, escravos nas consequências.”

 

Todos trazemos na intimidade do próprio ser a dor, a aflição, o problema que nem sempre é solucionável à maneira que gostaríamos que fosse e permanece assim tal qual a iluminada assertiva de Paulo na epístola aos Corintios 12; 7-11.

 

E, para que me não exaltasse pelas excelências das revelações, foi-me dado um espinho na carnea saber, um mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de não me exaltar. (...) Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando estou fraco, então, sou forte.

O regenerado de Damasco nos concita a vislumbrar nas dificuldades do caminho, as alegrias de ter a oportunidade de resgatar nossos erros milenares, os quais estão imantados em nosso íntimo, atendendo os ditames da lei de ação e reação. Jesus ressaltou que bem-aventurado o aflito seria aquele que fizesse da dor um instrumento para a elevação de si mesmo, dando ainda graças a Deus por lhe ofertar a oportunidade do refazimento reparador do espírito. Aliás, semelhante atitude do cristão é uma boa régua para medir o tamanho da consciência prática frente os dissabores cotidianos.

Na questão 843 de O Livro dos Espíritos, Kardec realiza um questionamento que nos parece a princípio, muito simples, cuja resposta encaixa muito bem em nossas reflexões deste artigo:

Tem o homem o livre arbítrio de seus atos?

“Pois que tem a liberdade de pensar, tem igualmente a de obrar. Sem o livre arbítrio, o homem seria máquina.

 

Entendo que, basicamente, o livre-arbítrio, será sempre sumamente importante para todo empreendimento de regeneração que decidamos realizar a fim de reparar nossas imperfeições. A vontade vem imediatamente após, porém decidir por adotar um novo caminho, fazendo luz, ou permanecer no mesmo, reprisando erros, será sempre uma decisão do próprio espírito na sua jornada evolutiva.

E sobre este aspecto não cabe a ninguém interferir. O próprio Cristo acatou as indevidas decisões de Pedro, Judas, Pilatos, Herodes e mesmo após sua crucificação, entendeu Tomé em seu petitório descabido. O médium Chico Xavier, que com sua vida exemplar, transcendeu como “o homem” Chico Xavier, revelou-nos importante ensinamento:

“Uma das coisas que sempre aprendi com os Benfeitores Espirituais é não tolher o livre arbítrio de ninguém; os que viveram na minha companhia sempre tiveram liberdade para fazer o que quiseram…”

Encerramos nossas considerações registrando elevado ensino que Emmanuel nos propicia no livro O Essencial, na lição: As tres escolhas. 

“ O discípulo apresentou-se ao orientador cristão e indagou:
— Instrutor, em sua opinião, qual é a lei que englobaria, em si todas as Leis de Deus?

O interpelado respondeu:

— A Lei do Bem.

— Entretanto — acrescentou o aprendiz — quem diz “lei” refere-se a clima de ação que todos devemos observar.
— Isto mesmo.

— Nesse caso, onde ficaria o livre-arbítrio?

O orientador meditou alguns momentos e considerou:
— O livre-arbítrio é concedido a todas as criaturas conscientes, porquanto, “a cada Espírito será dado o que lhe cabe receber, conforme as próprias obras.” O Criador, porém, não é autor de violência. Por isso, até mesmo ante a Lei do Bem, a pessoa humana dispõe de três opções distintasPoderemos segui-la, parar na senda evolutiva, de modo a não segui-la, ou afastarmo-nos dela pelos despenhadeiros do mal.

— Instrutor amigo, esclareça, por obséquio, a que resultados nos levam as três escolhas referidas?

O mentor aclarou, com serenidade:

— Os que observam a Lei do Bem se encaminham para as Esferas Superiores;  os que preferem descansar em caminho, por vezes se demoram muito tempo na inércia, retomando a marcha com muitas dificuldades para a readaptação às tarefas da jornada; e os que se distanciam voluntariamente, nos resvaladouros do desequilíbrio, muitas vezes, gastam séculos, presos nos princípios de causa e efeito, até que, um dia, deliberem aceitar a própria renovação…

Compreendeu?

O aprendiz fez leve movimento afirmativo e começou a pensar.”

Caros leitores, comecemos a pensar também.

Todos os grifos são nossos.

Referências:

(1) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 67ª ed.  Brasília. Editora FEB, 1944. 494p.

(2) Emmanuel. O Essencial. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1ª ed. Editora Cultura Espírita União, 1986. 96p.

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