segunda-feira, 27 de outubro de 2025

 

A questão da sintonia no processo mediúnico

        Ainda que superficialmente, conhecemos a importância que a sintonia exerce sobre a ocorrência do fenômeno mediúnico. Muitos textos em obras respeitáveis, tem nos aclarado a questão. Porém, também consideramos que por mais saibamos é necessário pensar que distantes ainda nos encontramos do pleno saber, e sobre este aspecto, concordamos plenamente com Dr. Odilon ao afirmar que em matéria de mediunidade "estamos saindo da caverna".

        Este entrosamento espiritual entre espírito desencarnado e médium não se improvisa e quer seja nos fenômenos mediúnicos de natureza intelectual ou física, necessário se faz uma certa compatibilidade entre ambos para que se reduzam “os ruídos” no processamento do fenômeno.

         O nosso amado Chico Xavier, passou duas vezes, de nosso conhecimento, por interessantes experiências que, segundo ele próprio informa, foram necessárias para darem prosseguimento ao trabalho que vinha realizando. Transcrevemos os fatos para nossa aprendizagem. A primeira delas foi quando ia iniciar a psicografia do livro Há 2000 anos e que foi narrada, pelo próprio Chico, no programa Pinga-Fogo:

“Quando ouvi a respeito dos romances mediúnicos recebidos pela médium Zilda Gama, eu senti aquele desejo de ser médium também para romances, isso por volta de 1936. Nessa ocasião lidava com um grupo de crianças da família porque, pelo fato de eu não ter renascido nesta existência para o casamento, fiquei com 14 crianças, irmãos menores e sobrinhos dos quais presentemente eu estou distante por haverem crescido e tomado as suas responsabilidades. Nesse tempo a minha cabeça era atormentada por muitos problemas. Quando eu anunciei o desejo de receber romances, o espírito Emmanuel então me explicou: Para que você receba romances, você precisa ter a mente em estado de profunda serenidade. Se você quiser se comprometer a nos oferecer um clima mental adequado, de paciência e de calma, escreveremos por você algumas de nossas memórias.

         Somente quase 4 anos após, no ano de 1939, o médium mineiro conseguiu assumir com Emmanuel o compromisso de se acalmar e que quaisquer que fossem os problemas dentro de casa, com as crianças que já se encontravam mais crescidas, Chico ofereceria a ele um campo mental mais pacificado na oração. O valoroso espírito então orientou ao Chico que ele se concentrasse durante uma hora por dia e também se dispusesse a datilografar outra hora por dia, durante o tempo em que perdurasse a psicografia do romance, que ficou conhecido por Há 2000 anos.

        Veja bem meus caros leitores que estes são bastidores – e quantos não existiram que desconhecemos – que refletem a luta do médium, consigo mesmo, para, tal qual a superfície polida de um espelho cristalino, refletir com a maior fidelidade possível o que está recebendo do plano superior. Nesta hora é importante lembrar da nossa indisciplina e dificuldade de focar nas pequenas tarefas mediúnicas que realizamos em nossas casas espíritas, para deduzir o quanto podemos estar à mercê dos espíritos imperfeitos e da qualidade, muita vez questionável, dos nossos resultados nestas tarefas.

         Mas nosso querido Chico prossegue em sua narrativa trazendo-nos mais luz:

Quando o livro começou, ele inicia com uma cena de dois romanos a trocarem ideias no jardim, diante de um céu nebuloso que depois rebentou numa tempestade. Eu comecei a ver aquela cidade e o céu tempestuoso e a chuva caindo e aqueles dois homens vestidos à moda antiga, de túnicas, deitados naqueles sofás longos, comendo frutas com as mãos. Eu me assustei com aquela visão que parecia uma visão estranha porque estava dentro de mim e fora de mim. Comecei a assistir só, a um cinema em que eu tomasse parte na tela e estivesse fora da tela. Então eu me assustei. Parei de escrever. Então Emmanuel me disse: ”Você está debaixo de uma certa hipnose. Você está vendo o que eu estou pensando. Mas não sabe o que eu estou escrevendo.” De modo que eu vivi muito mais o romance ao recebê-lo, do que ao ler ou reler o que eu escrevia.

        Chico Xavier “funcionando” neste episódio como médium inconsciente e, simultaneamente, vendo as cenas como de um filme – e que filme hein! -  para, com maior fidelidade, registrar suas impressões para comporem um dos mais belos romances da parceria com Emmanuel.

      Desejamos acrescentar que no livro Mediunidade plena, psicografada por Carlos Baccelli pelo espírito Dr. Odilon Fernandes orienta ao médium que realmente deseja servir à Causa, deve reservar em sua mente um “espaço permanente” para que os espíritos, quando necessário, possam acioná-lo ao desejar entrar em contato. Vale enfatizar que este espaço deve ser ocupado com pensamentos elevados, boas ações e leituras edificantes. Em quase total maioria, os médiuns somente ocupam os espaços mentais com as preocupações da vida cotidiana pela luta do pão de cada dia, o que é necessário e louvável, porém não deve nos abdicar dos exercícios de tom superior a que devemos nos submeter quando, principalmente, nos compromissamos com as tarefas da mediunidade. Pertinente recordar a parábola dos talentos, pois sem os nossos mínimos esforços, não deixemos estagnar em nós próprios, sementes de belas e promissoras faculdades.

          Na próxima semana abordaremos o segundo episódio legado pelo Chico, para nossos estudos e reflexões.

Todos os grifos são nossos.

Referências:

(1) Francisco Cândido Xavier. Pinga-Fogo. EDICEL, São Paulo, 1971, 71p.

(2) Odilon Fernandes. Mediunidade plena. Psicografado por Carlos A. Baccelli. 1ª ed. Editora DIDIER, Votuporanga, 2025. 214p.

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