segunda-feira, 5 de maio de 2025

 

Judas – lições de um espírito redimido

 

As conquistas do mundo são cheias de ciladas para o espírito e, entre elas, é possível que nos transformemos em órgão de escândalo para a verdade que o Mestre representa.

Judas – Boa Nova

 

Profundas e expressivas lições encontramos ao refletirmos sobre os acontecimentos que conduziram Jesus à prisão e, posteriormente ao martírio, estudando, sob a ótica espírita, a participação ativa de Judas.

Em pelo menos três obras de Humberto de Campos, (Irmão X), e Emmanuel, ambos pela psicografia de Chico Xavier, nos deparamos com informações que somente a espiritualidade superior poderia fornecer, em busca de melhor compreensão deste drama que envolveu o irmão equivocado.

No livro Palavras do Infinito, há expressiva página, que relata o encontro, no mundo espiritual, no século vinte, entre Judas Iscariotes e Humberto de Campos. Com o espírito curioso de repórter, nosso irmão dirige algumas questões a Judas, que humildemente se propõe responder:

 

- “É uma verdade tudo quanto reza o Novo Testamento com respeito à sua personalidade na tragédia da condenação de Jesus”?

- “Em parte... Os escribas que redigiram os evangelhos não atenderam às circunstâncias e às tricas políticas que acima dos meus atos predominaram na nefanda crucificação. Pôncio Pilatos e o tetrarca da Galiléia, além dos seus interesses individuais na questão, tinham ainda a seu cargo salvaguardar os interesses do Estado romano, empenhado em satisfazer as aspirações religiosas dos anciãos judeus”.

 

Refletindo nesta passagem, observa-se que desde os tempos longínquos, as origens do mal repetem-se agindo desde a intimidade da dureza do coração humano. Os religiosos da época, representados pela ortodoxia judia, desejavam de maneira exclusiva, o reino do céu a ferro e fogo; enquanto, por outro lado, Roma aspirava pelo reino da Terra. Colocando-se entre estas duas forças antagônicas, temos Jesus, com sua pureza impensável a nós, representando o caminho a que se deve seguir para o intento do discípulo que deseja “subir aos céus”.

Neste texto, Judas considerava a si próprio como:


“um dos apaixonados pelas ideias socialistas do Mestre, porém o meu excessivo zelo pela doutrina me fez sacrificar o seu fundador. Acima dos corações, eu via a política, única arma com a qual poderia triunfar e Jesus não obteria nenhuma vitória”.

 

Recorremos também à obra Lázaro Redivivo, pelo lápis abençoado de Chico Xavier, ditado pelo mesmo Irmão X, o qual afirma a respeito de Judas, em auxílio ao nosso entendimento:

 

“Judas, amava o Mestre, entretanto, competia-lhe cuidar dos interesses d’Ele. A vaidade absorvia-o. A paixão pelas riquezas transitórias empolgava-lhe o espírito. Despreocupado das necessidades próprias, intentava resolver os problemas do Senhor, perante as forças políticas do tempo. O Mestre ensinava a concórdia, a tolerância, a paciência e a esperança, mas, como efetuar as reformas necessárias, através de simples atitudes idealistas?”

 

O apóstolo Pedro, traça revelador perfil sobre Judas, na inolvidável obra Paulo e Estevão, ditado por Emmanuel a Chico Xavier.                                                                            Vejamos suas ponderações:

“Em contato com a realidade do mundo, cheguei à conclusão de que Judas foi mais infeliz que perverso. Ele não acreditava na validade das obras sem dinheiro, não aceitava outro poder que não fosse o dos príncipes do mundo. Estava sempre inquieto pelo triunfo imediato das ideias do Cristo. Judas, antes do apostolado, era negociante. Estava habituado a vender a mercadoria e receber o pagamento imediato. Julgo, nas meditações de agora, que ele não pôde compreender o Evangelho de outra forma, ignorando que Deus é um credor cheio de misericórdia, que espera generosamente a todos nós, que não passamos de míseros devedores. Talvez amasse profundamente o Messias, contudo, a inquietação fê-lo perder na oportunidade sagrada. Tão só pelo desejo de apressar a vitória, engendrou a tragédia da cruz, com a sua falta de vigilância”.

Profunda a expressão simbólica dessa recordação e, com a sua luz, cabe-nos reconhecer que a maioria dos homens continua a irrefletida ação de Judas, permutando o Mestre, inconscientemente, por esperanças injustas, por vantagens materiais, por privilégios passageiros. Judas, sobretudo, desejava encontrar em Jesus as disposições de um guerreiro do mundo, avassalador, empunhando armas, partindo para cima da tirania romana e dos adversários da crença. Almejava, como os homens de hoje, que as autoridades religiosas de Jerusalém pudessem garantir toda a beleza da boa nova. Que, sob a força da lei, o amor se insinuasse nos corações humanos, sem suspeitar que ele mesmo, Judas, ainda não havia adquirido tais requisitos. Enfim, não entendera a profundidade da afirmativa do Cristo: “Meu reino não pertence a este mundo”. Em nossos dias, infelizmente, da mesma maneira, muitos crentes da fé não a entenderam.

No livro Boa Nova, acima referido, pelas palavras do próprio Judas no diálogo com o autor espiritual da obra, revela-se suas sinceras intenções:

“Planejei então uma revolta surda como se projeta hoje em dia na Terra a queda de um chefe de Estado. O Mestre passaria a um plano secundário e eu arranjaria colaboradores para uma obra vasta e enérgica...”

Judas, o discípulo invigilante de outrora, crendo realizar plano que atendesse a seus perturbados interesses, procurou os sacerdotes no Sinédrio, comprometendo-se em planos que, dissimulados pelos sacerdotes, queriam enredar Jesus para sua prisão e morte.

Quando percebeu que os fatos marchavam para outros rumos, Judas, reconhecendo seu erro e percebendo as promessas não cumpridas daqueles em que havia confiado, roga por compaixão, recebendo a resposta que ainda ecoa no ouvido de muitos que somente encontram nos preceitos das religiões tradicionais engodo e falsas verdades que nunca se realizarão:

- “Que nos importa? Isto é contigo...” 

Na sequência, o suicídio de Judas, que foi uma infeliz tentativa de corrigir um erro com outro erro, lhe custou séculos de sofrimentos nas zonas inferiores no mundo espiritual, além de imenso remorso pelas perseguições infligidas por Roma aos cristãos. Até que, na Europa do século XV, em gloriosa encarnação, imitando o Mestre, foi traído, vendido e usurpado, terminado suas provas na fogueira inquisitorial, na personalidade de Joanna D’arc, a donzela de Domrémy, com intensa e decisiva participação na guerra dos cem anos, libertando sua pátria, a França, do jugo inglês, além de pacificá-la e uní-la, favorecendo o caminho para os preparativos, que mais tarde, culminariam na chegada do Consolador prometido por Jesus sobre a Terra.

Concluo este artigo, com as declarações finais do diálogo entre Judas e Humberto de Campos, que nos esclarece que somente à custa da conquista do amor ensinado por Jesus, libertaremos-nos dos grilhões que nos prendem ao ciclo repetitivo das encarnações:

“Desde esse dia, em que me entreguei por amor do Cristo a todos os tormentos e infâmias que me aviltavam, com resignação e piedade pelos meus verdugos, fechei o ciclo das minhas dolorosas reencarnações na Terra, sentindo na fronte o ósculo de perdão da minha própria consciência…”

   Em tempo. Nos meus idos períodos de infância e adolescência, era comum no sábado de Aleluia, o ritual da malhação do Judas, uma tradição católica felizmente quase extinta, que representa a punição a Judas por trair o Mestre por trinta moedas. Hoje, porém, por muito menos e às vezes por milhões a mais, traímos a Jesus descaradamente, enchendo os cofres das instituições religiosas.

    Também, quando alteramos ou deturpamos os textos da Doutrina Espírita, patrocinados por autoridades que deveriam zelar pela sua integridade, Jesus está sendo traído. Cada um, porém, receberá segundo as suas obras e nenhuma influência humana será capaz de impedir a evolução do Espiritismo na Humanidade.

     Por vezes chegamos a achar que, infelizmente, este mundo é uma comédia. Uma comédia triste de se ver.

Os grifos são nossos.

Referências

(1) Humberto de Campos. Palavras do Infinito. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1ª ed. São Paulo. Editora LAKE, 1936. 123p.

(2) Irmão X. Lázaro Redivivo. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1ª ed. Rio de Janeiro. Editora FEB, 1945. 263p.

(2) Emmanuel. Paulo e Estevão. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1ª ed. Rio de Janeiro. Editora FEB, 1941. 600p.

(4) Irmão X. Boa Nova. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1ª ed. Rio de Janeiro. Editora FEB, 1941. 208p.

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