segunda-feira, 22 de setembro de 2025

 

Estudando sobre o Animismo IV - final

 

Será que Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, preocupou-se com o tema do animismo? Há alguma referência deste assunto na obra que consideramos a mais importante, até então escrita sobre mediunidade no mundo?

Respondemos afirmativamente, no capítulo XIX – Do papel dos médiuns nas comunicações espíritas – ele questiona os espíritos superiores:

 

As comunicações escritas ou verbais também podem emanar do próprio Espírito encarnado no médium?

A alma do médium pode comunicar-se, como a de qualquer outro. Se goza de certo grau de liberdade, recobra suas qualidades de Espírito. Tendes a prova disso nas visitas que vos fazem as almas de pessoas vivas, as quais muitas vezes se comunicam convosco pela escrita, sem que as chameis. Porque, ficai sabendo, entre os Espíritos que evocais, alguns há que estão encarnados na Terra. Eles, então, vos falam como Espíritos e não como homens. Por que não se havia de dar o mesmo com o médium? ”

 

Havia, na época da publicação do Livro dos Médiuns, a crença que o espírito do próprio médium é quem realizava a comunicação e não uma outra entidade, e isso para todos os casos. Kardec faz este questionamento e recebe a resposta:

 

 “Os que assim pensam só erram em darem caráter absoluto à opinião que sustentam, porquanto é fora de dúvida que o Espírito do médium pode agir por si mesmo. Isso, porém, não é razão para que outros não atuem igualmente, por seu intermédio. ”

 

Portanto, em duas questões seguidas, Kardec afirma e confirma que sim, o espírito do próprio médium pode se manifestar, caracterizando a comunicação anímica. Porém, atribuir todos os comunicados mediúnicos somente ao espírito do médium, é um grande erro, segundo nos ensinam os espíritos superiores que ditaram a codificação.

Embora não seja fácil, para distinguir quando o ditado ou a escrita provém de um outro espírito ou do próprio médium, os espíritos superiores disseram a Kardec que a análise da natureza da comunicação, através de um estudo cuidadoso das circunstâncias e da linguagem, pode auxiliar. Ou seja, o médium pode dizer coisas completamente fora de suas ideias habituais, de seus conhecimentos e mesmo do alcance de sua inteligência indicando a possibilidade da presença de um outro espírito a se comunicar, que não o do próprio médium.

Mesmo nesta situação, em que fica patente o protagonismo de um espírito desencarnado na comunicação, sempre haverá animismo, em diferentes graus, nas comunicações mediúnicas, pois é o próprio Kardec que afirma, no citado capítulo XIX:

 

“com efeito, se bem que o pensamento lhe seja todo estranho, e que o assunto seja totalmente fora do âmbito em que ele se move, se bem o que o espírito quer dizer não provenha dele, nem por isso deixa o médium de exercer influência, no tocante à forma, pelas qualidades e propriedades inerentes à sua personalidade”.

 

Pode-se deduzir, portanto, que o Espírito do médium nunca é completamente passivo. Neste particular, Allan Kardec fornece-nos o correto enfoque do que seja “passividade” no tocante ao fenômeno mediúnico:

 

“É passivo (o médium), quando não mistura suas próprias ideias com as do Espírito que se comunica, mas nunca é inteira mente nulo. Seu concurso é sempre indispensável, como o de um intermediário, embora se trate dos que chamais médiuns mecânicos.”

 

          Destaca-se destas citações, a fundamental importância do preparo do médium, de sua qualificação e do quanto “investe” em si mesmo quando falamos da necessidade do estudo constante da Doutrina. Acrescentamos ainda, o cuidado que demonstra com a elevação de seu sentimento ao se integrar nas obras da caridade e de auxílio ao próximo, praticando, no exercício das faculdades, o esforço, a resignação e a disciplina. Todo este preparo, tanto no campo da intelectualidade com no do coração, são imprescindíveis para sermos instrumentos fiéis. E isto independe se estamos atuando como instrumento mediúnico ou anímico.

          Antes de concluirmos este estudo, que já se estendeu por esta quarta parte, quero mencionar a excelente obra do Dr. Odilon Fernandes que estuda, de maneira simples e acessível a todos o animismo. Recomendo fortemente a todos que leiam a obra Mediunidade – Transmissão e Recepção, que, na verdade, poderia ser intitulada Mediunidade Anímica. Dando mostras de sua sensibilidade e conhecimento no campo da mediunidade, Dr. Odilon, pela psicografia de Carlos Baccelli, amplia consideravelmente o entendimento de ser médium.

          Citando Jesus, ele afirma que:

 

“No Divino Mestre a mediunidade anímica se expressa com toda sua sublimidade”

 

Jesus, médium de Deus, pois, em permanente conexão com o Criador (eu e meu Pai somos um), não necessitava de qualquer espécie de intermediação de espíritos, fossem eles da mais elevada evolução.

Jesus, na condição única, aqui na Terra, de perfeito intérprete de Deus, pode, nesta situação, ser considerado médium. Ao demais, todos os fenômenos que ele realizou, caracterizam o fenômeno anímico, tendo sido desnecessário, em sua condição de espírito puro, de intermediários espirituais.

Afirma Dr. Odilon, que o médium anímico realiza a ausculta psíquica de toda a Criação e não somente de espíritos desencarnados e encarnados, e adiciona:

 

“O Homem que desenvolve a mediunidade anímica passa a perceber com maior nitidez e profundidade a vida em torno, logrando percepções de ordem transcendental em relação a tudo que existe”

 

          E, como as leis da mediunidade nos ensinam, que o homem melhorado se torna, gradativamente, melhor médium, deduz-se que, desenvolvendo suas percepções anímicas, o homem aperfeiçoará as mediúnicas.

          Finalizamos com a afirmação do Dr. Odilon na obra referida:

 

“Médiuns existem que, não estando no exercício dessa ou daquela faculdade mediúnica específica, são mais médiuns do que os que dizem sê-lo – sua sensibilidade anímica, embora não direcionada para esse ou aquele campo mediúnica, os coloca em sintonia com a vida. ”

 

          Portanto, amigo leitor, recomendo o estudo aprofundado com demorada reflexão, não restringindo o uso ultrapassado e às vezes mal-intencionado do animismo para atribuí-lo de forma inapropriada e até irresponsável nas reuniões mediúnicas, pois ignoramos muito mais do que conhecemos sobre a mediunidade.

 

(*) Todos os grifos são nossos

 

Referências

(2) Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 54ª ed.  Brasília. Editora FEB, 1944. 480p.

(1) Odilon Fernandes.  Mediunidade – Transmissão e Recepção. Psicografado por Carlos A. Baccelli. LEEPP Editora, 2021. 205p.

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