Estudando sobre o Animismo IV - final
Será que Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, preocupou-se com o tema do animismo? Há alguma
referência deste assunto na obra que consideramos a mais importante, até então
escrita sobre mediunidade no mundo?
Respondemos afirmativamente, no capítulo XIX – Do papel dos
médiuns nas comunicações espíritas – ele questiona os espíritos superiores:
As
comunicações escritas ou verbais também podem emanar do próprio Espírito
encarnado no médium?
“A
alma do médium pode comunicar-se, como a de qualquer outro. Se goza de
certo grau de liberdade, recobra suas qualidades de Espírito. Tendes a prova
disso nas visitas que vos fazem as almas de pessoas vivas, as quais muitas
vezes se comunicam convosco pela escrita, sem que as chameis. Porque, ficai
sabendo, entre os Espíritos que evocais, alguns há que estão encarnados na
Terra. Eles, então, vos falam como Espíritos e não como homens. Por que não se
havia de dar o mesmo com o médium? ”
Havia,
na época da publicação do Livro dos
Médiuns, a crença que o espírito do próprio médium é quem realizava a
comunicação e não uma outra entidade, e isso para todos os casos. Kardec faz
este questionamento e recebe a resposta:
“Os que assim pensam só erram em darem
caráter absoluto à opinião que sustentam, porquanto é fora de dúvida que o
Espírito do médium pode agir por si mesmo. Isso, porém, não é razão para que
outros não atuem igualmente, por seu intermédio. ”
Portanto, em duas questões seguidas, Kardec afirma e
confirma que sim, o espírito do próprio médium pode se manifestar,
caracterizando a comunicação anímica. Porém, atribuir todos os comunicados
mediúnicos somente ao espírito do médium, é um grande erro, segundo nos ensinam
os espíritos superiores que ditaram a codificação.
Embora não seja fácil, para distinguir quando o ditado ou a
escrita provém de um outro espírito ou do próprio médium, os espíritos
superiores disseram a Kardec que a análise da natureza da comunicação, através
de um estudo cuidadoso das circunstâncias e da linguagem, pode auxiliar.
Ou seja, o médium pode dizer coisas
completamente fora de suas ideias habituais, de seus conhecimentos e mesmo do
alcance de sua inteligência indicando a possibilidade da presença de um outro
espírito a se comunicar, que não o do próprio médium.
Mesmo nesta situação, em que fica patente o protagonismo de
um espírito desencarnado na comunicação, sempre haverá animismo, em
diferentes graus, nas comunicações mediúnicas, pois é o próprio Kardec que afirma,
no citado capítulo XIX:
“com efeito, se bem que o pensamento lhe seja todo estranho,
e que o assunto seja totalmente fora do âmbito em que ele se move, se bem o que
o espírito quer dizer não provenha dele, nem por isso deixa o médium de exercer
influência, no tocante à forma, pelas qualidades e propriedades inerentes à sua
personalidade”.
Pode-se deduzir, portanto, que o Espírito do médium nunca
é completamente passivo. Neste particular, Allan Kardec fornece-nos o
correto enfoque do que seja “passividade”
no tocante ao fenômeno mediúnico:
“É passivo (o médium), quando não mistura
suas próprias ideias com as do Espírito que se comunica, mas nunca é inteira
mente nulo. Seu concurso é sempre indispensável, como o de um intermediário,
embora se trate dos que chamais médiuns mecânicos.”
Destaca-se
destas citações, a fundamental importância do preparo do médium, de sua
qualificação e do quanto “investe” em si mesmo quando falamos da necessidade do
estudo constante da Doutrina. Acrescentamos ainda, o cuidado que demonstra com
a elevação de seu sentimento ao se integrar nas obras da caridade e de auxílio
ao próximo, praticando, no exercício das faculdades, o esforço, a resignação e
a disciplina. Todo este preparo, tanto no campo da intelectualidade com no
do coração, são imprescindíveis para sermos instrumentos fiéis. E isto
independe se estamos atuando como instrumento mediúnico ou anímico.
Antes de concluirmos este estudo, que
já se estendeu por esta quarta parte, quero mencionar a excelente obra do Dr.
Odilon Fernandes que estuda, de maneira simples e acessível a todos o animismo. Recomendo fortemente a todos que leiam
a obra Mediunidade – Transmissão e
Recepção, que, na verdade, poderia ser intitulada Mediunidade Anímica. Dando mostras de sua sensibilidade e
conhecimento no campo da mediunidade, Dr. Odilon, pela psicografia de Carlos
Baccelli, amplia consideravelmente o entendimento de ser médium.
Citando Jesus, ele afirma que:
“No Divino Mestre a mediunidade anímica se
expressa com toda sua sublimidade”
Jesus, médium de Deus, pois, em permanente
conexão com o Criador (eu e meu Pai somos um), não necessitava de qualquer
espécie de intermediação de espíritos, fossem eles da mais elevada evolução.
Jesus, na condição única, aqui na Terra,
de perfeito intérprete de Deus, pode, nesta situação, ser considerado médium.
Ao demais, todos os fenômenos que ele realizou, caracterizam o fenômeno
anímico, tendo sido desnecessário, em sua condição de espírito puro, de
intermediários espirituais.
Afirma Dr. Odilon, “que o médium anímico realiza a ausculta psíquica de toda a Criação
e não somente de espíritos desencarnados e encarnados”, e adiciona:
“O Homem que desenvolve a mediunidade
anímica passa a perceber com maior nitidez e profundidade a vida em torno,
logrando percepções de ordem transcendental em relação a tudo que existe”
E, como as
leis da mediunidade nos ensinam, que o homem melhorado se torna,
gradativamente, melhor médium, deduz-se que, desenvolvendo suas percepções
anímicas, o homem aperfeiçoará as mediúnicas.
Finalizamos
com a afirmação do Dr. Odilon na obra referida:
“Médiuns existem que, não estando no
exercício dessa ou daquela faculdade mediúnica específica, são mais médiuns do
que os que dizem sê-lo – sua sensibilidade anímica, embora não direcionada para
esse ou aquele campo mediúnica, os coloca em sintonia com a vida. ”
Portanto,
amigo leitor, recomendo o estudo aprofundado com demorada reflexão, não
restringindo o uso ultrapassado e às vezes mal-intencionado do animismo para
atribuí-lo de forma inapropriada e até irresponsável nas reuniões mediúnicas,
pois ignoramos muito mais do que conhecemos sobre a mediunidade.
(*) Todos os grifos são
nossos
Referências
(2) Kardec, Allan. O Livro dos
Médiuns. Tradução de Guillon Ribeiro. 54ª ed. Brasília. Editora
FEB, 1944. 480p.
(1) Odilon Fernandes. Mediunidade
– Transmissão e Recepção. Psicografado por Carlos A. Baccelli. LEEPP
Editora, 2021. 205p.
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