segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Estudando sobre o Animismo III

 

 

Retomando os estudos e reflexões desta semana recorremos à obra No Mundo Maior, da lavra mediúnica de Chico Xavier, em que o instrutor Calderaro responde à indagação de André Luiz sobre o animismo:

“A consulta exige meditação mais acurada. A tese animista é respeitável. Partiu de investigadores conscienciosos e sinceros, e nasceu para coibir os prováveis abusos da imaginação(...)”

         

Calderaro não condenou os defensores da “tese animista”, pois ela visava combater, no médium sem estudo e sem discernimento, os excessos de imaginação.

Se não condenou, o instrutor fez um importante alerta na sequência de sua fala:

 

“Entretanto, vem sendo usada (animismo) cruelmente pela maioria dos nossos colaboradores encarnados, que fazem dela um órgão inquisitorial, quando deveriam aproveitá-la como elemento educativo, na ação fraterna.

 

          Claramente conhecendo os meandros do animismo como fator inerente ao fenômeno mediúnico, Calderaro exorta os médiuns e os dialogadores presentes às sessões mediúnicas a mais amplo estudo e preparo, inclusive no campo da caridade fraterna. Isso porque, o que deveria ser uma oportunidade de orientação para companheiros que estão em jornada de início na mediunidade, se transforma em julgamento e opressão da parte dos mais “experimentados”. Inclusive, Calderaro compara essa forma de encarar o animismo a “Cérbero” que na mitologia grega, é um monstruoso cão de três cabeças que guarda o reino de Hades, impedindo que as almas dos mortos fujam e que os vivos entrem no mundo inferior.

          Sabemos, é claro, que dentre os percalços enfrentados pelos iniciantes na mediunidade, a dúvida, muitas vezes fomentada pela questão legítima do animismo, está sempre presente. Neste delicado campo de ação, precisamos todos, protagonistas de reuniões mediúnicas, sermos detentores não só do conhecimento, mas também da sensibilidade para orientar. Assim como nos ensina Dr. Odilon Fernandes na obra Mediunidade – Transmissão e Recepção, psicografado por Carlos Baccelli:

 

“Em matéria de mediunidade, toda influência benéfica por parte do médium é sempre bem-vinda, desde que essa interferência, realmente, seja benéfica em todos os sentidos -  ele não será menos médium por isso e nem estará mistificando. ”

         

          Voltando a comentar o capítulo 9 – Mediunidade – Calderaro orienta como agir frente a candidatos com mediunidade nascente:

 

Recolhidos ao castelo teórico, inúmeros amigos nossos, em se reunindo para o elevado serviço de intercâmbio com a nossa esfera, não aceitam comumente os servidores, que hão de crescer e de aperfeiçoar-se com o tempo e com o esforço. Exigem meros aparelhos de comunicação, como se a luz espiritual se transmitisse da mesma sorte que a luz elétrica por uma lâmpada vulgar. Nenhuma árvore nasce produzindo e qual quer faculdade nobre requer burilamento. A mediunidade tem, pois sua evolução, seu campo, sua rota.

 

De grande responsabilidade é o papel do orientador/ coordenador em uma reunião mediúnica. Ter a sensibilidade e experiência para acolher os companheiros em início de jornada no campo da mediunidade e auxiliá-los a aprender a discernir, o que nem sempre é tarefa fácil, o seu, do pensamento da entidade comunicante. Estimula o candidato ao estudo constante e a prática do bem, pois considera sobretudo, que a mediunidade evolui no medianeiro, à medida que este se interessa e investe na própria mediunidade.

O instrutor Calderaro denota preocupação quando certos companheiros, apoiados na tese animista, pretendem atribuir toda a responsabilidade do trabalho espiritual somente sobre o instrumento mediúnico. É preciso reconhecer na teoria e também na prática, que os médiuns não “nascem prontos”. Chico Xavier, se é que podemos especular a respeito, se fez como lídimo seguidor do Cristo, ao longo de muitas jornadas encarnatórias. Faculdades mediúnicas completas são fruto de trabalho e esforço contínuo no campo da auto-educação e do aprimoramento moral, pois ninguém receberá as bênçãos da colheita, sem o suor da sementeira, como assevera Calderaro.

O capítulo é finalizado com expressivo caso sobre o animismo, onde encontramos a médium Eulália, que recebe legítima comunicação de um espírito desencarnado no sadio desejo de praticar o bem, propondo ao grupo de trabalhadores encarnados, realizar plano de socorro a enfermos desamparados. Eulália, de onze médiuns a serviço, era a única que exibia mais adiantado estado receptivo para a comunicação do nobre irmão. Ainda assim, elucida Calderaro:    

 

(Eulália) “não é capaz de elevar-se à mesma frequência de vibração em que se acha o comunicante; não possui suficiente “espaço interior” para comungar-lhe as ideias e conhecimentos; (...) nem haver construído, na experiência atual, as necessárias teclas evolucionárias, que só o trabalho sentido e vivido lhe pode conferir”.

 

Entende-se que Eulália, embora no caminho, necessitava de mais amplo esforço de aprimoramento, inclusive no campo da ciência médica, a qual o comunicante pertencia, para lhe refletir mais fielmente as ideias.

Retrata Eulália, a situação de muitos médiuns colaboradores imbuídos de “boa vontade criadora” imprescindível para ascensão aos planos mais altos, porém a requerer substanciais conteúdos a fim de melhor equipar o próprio aparelho mental.

No desdobramento do caso, a mensagem foi recebida e assinada pelo comunicante, sendo lida para todos os presentes na reunião. Calderaro assim registra a conclusão:

 

“O presidente da sessão, seguido pelos demais companheiros, iniciou o estudo e debate da mensagem. Concordou-se em que era edificante na essência, mas não apresentava índices concludentes da identificação individual; não procedia, possivelmente, do conhecido profissional que a subscrevera; faltavam-lhe os característicos especiais, pois um médico usaria nomenclatura adequada e se afastaria da craveira comum. E a tese animista apareceu como tábua de salvação para todos.”

 

Desnecessário dizer que Eulália abatera-se e entristecera-se profundamente com o “veredito” dos demais companheiros. Após ser atendida pelo instrutor espiritual que, com ternura paternal aplicou-lhe passe e palavras de incentivo e reconforto, a médium, captando as orientações, assume postura de compreensão e recobra novo ânimo a fim de persistir na luta.

Vale a pena, amigo leitor, a leitura integral do original para também entendermos, como participantes rotineiros das sessões mediúnicas que somos, as sutilezas existentes nos ensinamentos dos amigos superiores.

Voltaremos ao assunto no próximo artigo, concluindo esse tema que deve interessar a todos que militam no campo da mediunidade.


(*) Todos os grifos são nossos

 

Referência

(1) Luiz, André. No mundo maior. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1ª ed. Brasília. Editora FEB, 1947. 253p.

(2) Odilon Fernandes.  Mediunidade – Transmissão e Recepção. Psicografado por Carlos A. Baccelli. LEEPP Editora, 2021. 205p.

 


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