Estudando sobre o Animismo III
Retomando os
estudos e reflexões desta semana recorremos à obra No Mundo Maior, da lavra mediúnica de Chico Xavier, em que o
instrutor Calderaro responde à indagação de André Luiz sobre o animismo:
“A consulta exige meditação mais acurada.
A tese animista é respeitável. Partiu de investigadores conscienciosos e
sinceros, e nasceu para coibir os prováveis abusos da imaginação(...)”
Calderaro não condenou os
defensores da “tese animista”, pois ela visava combater, no médium sem estudo e
sem discernimento, os excessos de imaginação.
Se não condenou, o instrutor
fez um importante alerta na sequência de sua fala:
“Entretanto, vem sendo usada (animismo) cruelmente
pela maioria dos nossos colaboradores encarnados, que fazem dela um órgão
inquisitorial, quando deveriam aproveitá-la como elemento educativo, na
ação fraterna.
Claramente
conhecendo os meandros do animismo como fator inerente ao fenômeno mediúnico,
Calderaro exorta os médiuns e os dialogadores presentes às sessões mediúnicas a
mais amplo estudo e preparo, inclusive no campo da caridade fraterna. Isso
porque, o que deveria ser uma oportunidade de orientação para companheiros que
estão em jornada de início na mediunidade, se transforma em julgamento e
opressão da parte dos mais “experimentados”. Inclusive, Calderaro compara essa
forma de encarar o animismo a “Cérbero” que na
mitologia grega, é um monstruoso cão de três cabeças que guarda
o reino de Hades, impedindo que as almas dos mortos fujam e que os vivos entrem
no mundo inferior.
Sabemos,
é claro, que dentre os percalços enfrentados pelos iniciantes na
mediunidade, a dúvida, muitas vezes fomentada pela questão legítima do
animismo, está sempre presente. Neste delicado campo de ação, precisamos
todos, protagonistas de reuniões mediúnicas, sermos detentores não só do
conhecimento, mas também da sensibilidade para orientar. Assim como nos ensina
Dr. Odilon Fernandes na obra Mediunidade – Transmissão e Recepção, psicografado
por Carlos Baccelli:
“Em matéria de mediunidade,
toda influência benéfica por parte do médium é sempre bem-vinda, desde que essa
interferência, realmente, seja benéfica em todos os sentidos - ele
não será menos médium por isso e nem estará mistificando. ”
Voltando a
comentar o capítulo 9 – Mediunidade – Calderaro orienta como agir frente a
candidatos com mediunidade nascente:
Recolhidos ao castelo teórico, inúmeros
amigos nossos, em se reunindo para o elevado serviço de intercâmbio com a nossa
esfera, não aceitam comumente os servidores, que hão de crescer e
de aperfeiçoar-se com o tempo e com o esforço. Exigem meros aparelhos de
comunicação, como se a luz espiritual se transmitisse da mesma sorte que a luz
elétrica por uma lâmpada vulgar. Nenhuma árvore nasce produzindo e qual quer
faculdade nobre requer burilamento. A mediunidade tem, pois sua evolução,
seu campo, sua rota.
De grande
responsabilidade é o papel do orientador/ coordenador em uma reunião mediúnica.
Ter a sensibilidade e experiência para acolher os companheiros em início de
jornada no campo da mediunidade e auxiliá-los a aprender a discernir, o que nem
sempre é tarefa fácil, o seu, do pensamento da entidade comunicante. Estimula o
candidato ao estudo constante e a prática do bem, pois considera sobretudo, que
a mediunidade evolui no medianeiro, à medida que este se interessa e investe na
própria mediunidade.
O instrutor Calderaro
denota preocupação quando certos companheiros, apoiados na tese animista, pretendem
atribuir toda a responsabilidade do trabalho espiritual somente sobre o
instrumento mediúnico. É preciso reconhecer na teoria e também na prática, que os
médiuns não “nascem prontos”. Chico Xavier, se é que podemos especular a
respeito, se fez como lídimo seguidor do Cristo, ao longo de muitas jornadas
encarnatórias. Faculdades mediúnicas completas são fruto de trabalho e esforço
contínuo no campo da auto-educação e do aprimoramento moral, pois ninguém
receberá as bênçãos da colheita, sem o suor da sementeira, como assevera
Calderaro.
O capítulo é
finalizado com expressivo caso sobre o animismo, onde encontramos a médium
Eulália, que recebe legítima comunicação de um espírito desencarnado no sadio
desejo de praticar o bem, propondo ao grupo de trabalhadores encarnados,
realizar plano de socorro a enfermos desamparados. Eulália, de onze médiuns a serviço,
era a única que exibia mais adiantado estado receptivo para a comunicação do
nobre irmão. Ainda assim, elucida Calderaro:
(Eulália) “não é capaz de elevar-se à
mesma frequência de vibração em que se acha o comunicante; não possui
suficiente “espaço interior” para comungar-lhe as ideias e conhecimentos; (...)
nem haver construído, na experiência atual, as necessárias teclas
evolucionárias, que só o trabalho sentido e vivido lhe pode conferir”.
Entende-se
que Eulália, embora no caminho, necessitava de mais amplo esforço de
aprimoramento, inclusive no campo da ciência médica, a qual o comunicante
pertencia, para lhe refletir mais fielmente as ideias.
Retrata
Eulália, a situação de muitos médiuns colaboradores imbuídos de “boa vontade
criadora” imprescindível para ascensão aos planos mais altos, porém a requerer
substanciais conteúdos a fim de melhor equipar o próprio aparelho mental.
No
desdobramento do caso, a mensagem foi recebida e assinada pelo comunicante, sendo
lida para todos os presentes na reunião. Calderaro assim registra a conclusão:
“O presidente da sessão, seguido pelos
demais companheiros, iniciou o estudo e debate da mensagem. Concordou-se em que
era edificante na essência, mas não apresentava índices concludentes da
identificação individual; não procedia, possivelmente, do conhecido
profissional que a subscrevera; faltavam-lhe os característicos especiais, pois
um médico usaria nomenclatura adequada e se afastaria da craveira comum. E a
tese animista apareceu como tábua de salvação para todos.”
Desnecessário dizer que Eulália abatera-se e
entristecera-se profundamente com o “veredito” dos demais companheiros. Após
ser atendida pelo instrutor espiritual que, com ternura paternal aplicou-lhe
passe e palavras de incentivo e reconforto, a médium, captando as orientações,
assume postura de compreensão e recobra novo ânimo a fim de persistir na luta.
Vale a pena, amigo leitor, a leitura integral do original
para também entendermos, como participantes rotineiros das sessões mediúnicas
que somos, as sutilezas existentes nos ensinamentos dos amigos superiores.
Voltaremos ao assunto no próximo artigo, concluindo esse
tema que deve interessar a todos que militam no campo da mediunidade.
(*) Todos os grifos são
nossos
Referência
(1) Luiz, André. No mundo maior. Psicografado por
Francisco Cândido Xavier. 1ª ed. Brasília. Editora FEB, 1947. 253p.
(2) Odilon Fernandes. Mediunidade –
Transmissão e Recepção. Psicografado por Carlos A. Baccelli. LEEPP
Editora, 2021. 205p.
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