A Partilha
Apresentamos
neste post o resultado de um diálogo, por ocasião da reunião mediúnica no Grupo
Espírita da Fraternidade, que temos oportunidade de compartilhar com nossos
companheiros. Como sempre dizemos, nestes diálogos, sempre encontramos muitas
lições para nosso crescimento espiritual.
- Seja bem-vindo a nossa reunião.
- Reunião do que?
- Reunião para fazer uma oração para o irmão, conversar, estender a mão.
- Pensei que já fosse a reunião da partilha, não é?
- Por enquanto não.
- Estou aguardando.
- Em família?
- É. Então é reunião do quê?
- Esclarecimento.
- Da partilha?
- Vamos falar sobre ela também, mas não só. Outra coisa não lhe ocupa a
mente além da partilha? Falei, tentando encaminhar o diálogo.
- Não senhor.
- Não?
- Não senhor?
- Qual o seu lugar na família? É filho?
- Sim.
- E seu pai?
- Já se foi.
- E sua mãe?
- Já se foi também.
- Há tempo?
- Sim.
- E por que agora vocês resolveram fazer esta partilha?
- Porque estava tudo muito desorganizado.
- São em muitos irmãos?
- Sim somos em sete irmãos.
- Você está vindo de onde, que mal lhe pergunte.
- Eu estou na minha casa.
- Olhe bem ao redor. Procure verificar se está realmente na sua casa. O
que consegue enxergar?
- Ué realmente não é minha casa. Mas eu não saí de lá.
- Foi trazido aqui.
- E também ninguém me buscou. Não recebi esta informação que alguém me
buscaria. Eu estava bem acordado.
- O fato é que você não está mais lá, concorda comigo?
- É, é verdade. Isto aqui está muito estranho, muito estranho.
- Por isso que você está aqui para receber esclarecimentos. Você não irá
mais, no momento, participar da partilha.
- Ah!!!! Como não? Eu esperei tanto por isso, não vejo a hora de pegar o
que é meu por direito.
- Mas geralmente, quando estamos na Terra não contamos com o
imponderável e sempre acreditamos que a morte sempre é para os outros, nunca
nos alcançará.
- É, mas eu ainda sou muito novo.
- Você já foi em alguns velórios de amigos alguma vez? Dos seus próprios
pais? Ficou sabendo de mortes de crianças?
- Sim, sim, isso acontece
- Isso pode acontecer conosco, não somente com os outros. Está entendendo
o que eu estou tentando lhe dizer?
- Ah, mas eu estou muito bem de saúde, graças a Deus. Meu corpo é
saudável. Eu não tenho nada assim que poderia me adiantar a partida…
- Até os mais saudáveis também partem, meu irmão.
- Não me venha com essas conversas.
- Olha ao seu redor. Procure ver onde você está e pergunte para mim.
- Eu não sei onde eu estou… Esse lugar não me é nada….
- ...familiar?
- Sim, familiar, conhecido. Nunca estive num lugar assim com essas
pessoas, pessoas tristes. Eu não sei como eu vim parar aqu, isso sim.
- Se veio até aqui é porque está precisando.
- O que eu sei é que está chegando o dia da partilha.
- Sinto muito ter que lhe dizer isso, mas, a partilha já ocorreu.
- Como já foi? Imagina! Aliás, quem é o Senhor, afinal?
- Eu sou uma pessoa que está tentando lhe ajudar, fornecendo esses
esclarecimentos.
- Me ajudando? Esclarecendo? Você está me tirando a paz. Além de tudo,
ainda quer me trazer uma perturbação desta.
- Geralmente é assim que pessoas que ignoram a situação como você, nos
consideram, mas depois que descobrem a real situação, mudam de opinião.
Infelizmente você não faz mais parte dos considerados vivos na Terra.
- O senhor deve estar enganado deve estar falando com outra pessoa, pois
veja, o Senhor não está falando comigo? - falou irritado, aumentando o voluma
da voz - eu não estou aqui sentado conversando?
- A morte é somente para o corpo físico a alma é imortal continua viva,
tentei amenizar.
- Que alma coisa nenhuma. É tudo uma coisa só, não há duas coisas.
Morreu acabou e eu estou aqui vivo. Muito vivo.
- Graças a Deus! Você está vivo enquanto alma que você é. Houve um
velório e o seu corpo foi sepultado.
- Como, se eu estou vendo aqui meu corpo e o senhor também está; senão
não estaria falando comigo agora. Nossa, mas que assunto mais desagradável para
um dia como esse?
- Eu considero também um assunto que é desagradável, porém necessário,
muito necessário. Você precisa abrir os seus olhos para enxergar.
- Mas os meus olhos estão bem abertos, estou vendo perfeitamente.
- Não são a seus olhos físicos que estou me referindo, meu irmão.
- É alguém que mandou você aqui? Quem lhe enviou aqui para trazer essa
confusão? Foi um dos meus irmãos? Pode me dizer, pois que eles são bem desse
tipo mesmo. O senhor quer tirar a minha paz, me deixar desorientado, estão
querendo armar alguma coisa para mim; esse povo é bem capaz de muita coisa.
- Talvez tenha sido um dos seus pais que esteja intercedendo por você.
- Eu já disse para o senhor que eles já se foram.
- Então..., agora você se encontra no mesmo lado que eles estão.
- Que outro lado o que? Não existe outro lado. Só existe um lado, com a
morte tudo se acaba – rebateu se irritando novamente.
Nessa hora, solicitamos em prece, que
fosse permitido pelos amigos espirituais, que coordenam os nossos trabalhos
mediúnicos, que fosse apresentado a esse irmão a cena do seu próprio funeral.
Enquanto isso, o irmão descrente e materialista, permaneceu murmurando
palavras um tanto desconexas. Voltei a lhe dirigir a palavra.
- Veja irmão essa cena que eles estão lhe mostrando.
- Certo, eu vou assistir, estou vendo muita gente em casa, muita gente
chegando na minha casa. Eu nem consigo chegar lá de tanta gente. É uma festa?
Não, não é uma festa, porque as pessoas estão com semblante tristes, parecem
chateadas. Por que será que isso está acontecendo?
- Com a permissão de Deus e dos amigos espirituais, vá se aproximando
até o centro da sala da sua casa para verificar.
- O que é isto quem está fazendo? Essa….
- ...essa magia? – Terminei a frase dele adivinhando sua pergunta.
- Sim, magia…Ué, sou eu ali?
- É isso, seu corpo dentro do caixão, como eu lhe disse.
- Coisa mais louca, não estou acreditando nessas coisas, não.
- Infelizmente não posso fazer mais nada. Se estou mostrando o seu
próprio velório seu próprio enterro e você não acredita o que mais posso fazer?
- Eu estou vendo meu pai e minha mãe, estão lá. Eles estão lá.
- Porque eles também já haviam morrido e estavam participando do seu funeral
em espírito, da mesma maneira que você está falando comigo. Os mortos vivem, os
mortos falam, os mortos possuem corpos.
- Eu quero acordar disso, desse pesadelo horroroso. Como é possível?
Eles estavam lá, eu os vi. Meus pais!
- Foi o que lhe disse antes, que eles, provavelmente, estão intercedendo
para que você esteja aqui recebendo este esclarecimento. Seus pais não estão
mortos, apenas o corpo falece como se fosse uma veste da alma.
- Eles já se foram a tanto tempo…, falou tristonho.
- Você não é aquele corpo que estava no caixão. Você é a essência, a
alma, e a alma não perece, ela é imortal. Infelizmente, você nunca recebeu
esses conceitos fundamentais como parte mínima de uma educação religiosa. Agora,
é natural que você tenha essa dificuldade em aceitar que partiu da vida física.
Se vocês eram sete irmãos na Terra, agora, lá são seis.
- Eles irão ficar com tudo? E a minha parte?
- Agora os valores materiais não lhe devem interessar mais. Aqui não são
úteis.
- Eu quero a minha parte, eu aguardei esse momento por tanto tempo. Como
que pode morrer desse jeito? – voltou, nosso irmão desencarnado a se rebelar.
- Morrendo, oras bola! Falei em tom de brincadeira.
- Estas coisas não têm pé nem cabeça.
- É o imponderável meu irmão. Nunca esperamos que a lei Divina se
execute em nós, sempre para os outros. Como se pudéssemos estabelecer para Deus
o dia e a maneira que desejamos morrer, mas as coisas não funcionam assim.
Temos que entender que isso faz parte dos desígnios divinos, muitos dos quais,
por não os conhecer, não aceitamos.
- Isso chega a ser de uma crueldade muito grande.
- Não irmão, não fale assim. Antes, é de uma justiça muito grande, a
qual você não entendeu ainda.
- Justiça, como?
- Quem sabe, provavelmente, sua morte lhe poupou de muitos Sofrimentos
que o dinheiro poderia lhe propiciar.
- Ah sim…. você não sabe o que fala mesmo. É mais desajuizado do que eu
pensava. Primeiro você fala que eu estou morto.
- Você constatou…
- Depois, me mostra o meu velório.
- Que você constatou…
- Mostra meu pai e minha mãe, que já estão mortos e agora fala que a
morte me poupou? Não sabe nem o que fala. Eu só preciso de uma coisa – falou convicto
- da minha parte da partilha, o resto deixa comigo. Não preciso de ninguém me
orientando, ainda mais me mostrando coisas que nem fazem sentido.
- Já estamos para encerrar nosso diálogo….
- Eu espero mesmo. Eu quero acordar logo desse pesadelo.
- Grave bem isso que eu vou lhe dizer. Ao terminar nosso diálogo faremos
um convite para que você siga com alguns companheiros para o hospital, para
fazer tratamento.
- Era o que me faltava, ainda vou para um hospital?
- Sim, aí no mundo dos espíritos, porque você não irá mais acordar na
sua casa, você não pertence mais ao mundo dos encarnados.
- Quer dizer que o morto ainda vai para o hospital? Tá certo….E ainda
vou tomar medicação, fazer tratamento. Estou doente que eu nem sei, porque tenho
comigo que sou uma pessoa saudável.
- Vamos encerrar aqui o nosso diálogo.
- Ai que bom, eu agradeço – disse satisfeito.
- Agradeço a sua atenção e paciência. Espero que você, pouco a pouco,
despertando, faça suas orações a Jesus pedindo esclarecimento e proteção.
- Que orações o que! Já posso ir? Onde eu vou? Como eu faço? Eu não
consigo ir sozinho.
- Foi o que lhe disse. Se você aceitar o convite eles o levarão para um
hospital; algum lugar onde você possa continuar a receber alguns
esclarecimentos.
- Está bem, eu irei com eles. Boa noite.
- Boa noite meu irmão, Deus lhe abençoe. Vá em paz.
Desnecessário dizer como é triste constatar o estrago
e a ilusão que ambos, a falta da consciência religiosa e o materialismo,
ensejam na vida do ser humano, tanto na vida física quanto e, principalmente,
na vida espiritual.
Convém que tomemos a lição em primeiro lugar, para
nós próprios e coloquemos a barba de molho, pois o despreparo e falta de
conhecimento espiritual torna muito feia a coisa do lado de lá.
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