segunda-feira, 27 de outubro de 2025

 

A questão da sintonia no processo mediúnico

        Ainda que superficialmente, conhecemos a importância que a sintonia exerce sobre a ocorrência do fenômeno mediúnico. Muitos textos em obras respeitáveis, tem nos aclarado a questão. Porém, também consideramos que por mais saibamos é necessário pensar que distantes ainda nos encontramos do pleno saber, e sobre este aspecto, concordamos plenamente com Dr. Odilon ao afirmar que em matéria de mediunidade "estamos saindo da caverna".

        Este entrosamento espiritual entre espírito desencarnado e médium não se improvisa e quer seja nos fenômenos mediúnicos de natureza intelectual ou física, necessário se faz uma certa compatibilidade entre ambos para que se reduzam “os ruídos” no processamento do fenômeno.

         O nosso amado Chico Xavier, passou duas vezes, de nosso conhecimento, por interessantes experiências que, segundo ele próprio informa, foram necessárias para darem prosseguimento ao trabalho que vinha realizando. Transcrevemos os fatos para nossa aprendizagem. A primeira delas foi quando ia iniciar a psicografia do livro Há 2000 anos e que foi narrada, pelo próprio Chico, no programa Pinga-Fogo:

“Quando ouvi a respeito dos romances mediúnicos recebidos pela médium Zilda Gama, eu senti aquele desejo de ser médium também para romances, isso por volta de 1936. Nessa ocasião lidava com um grupo de crianças da família porque, pelo fato de eu não ter renascido nesta existência para o casamento, fiquei com 14 crianças, irmãos menores e sobrinhos dos quais presentemente eu estou distante por haverem crescido e tomado as suas responsabilidades. Nesse tempo a minha cabeça era atormentada por muitos problemas. Quando eu anunciei o desejo de receber romances, o espírito Emmanuel então me explicou: Para que você receba romances, você precisa ter a mente em estado de profunda serenidade. Se você quiser se comprometer a nos oferecer um clima mental adequado, de paciência e de calma, escreveremos por você algumas de nossas memórias.

         Somente quase 4 anos após, no ano de 1939, o médium mineiro conseguiu assumir com Emmanuel o compromisso de se acalmar e que quaisquer que fossem os problemas dentro de casa, com as crianças que já se encontravam mais crescidas, Chico ofereceria a ele um campo mental mais pacificado na oração. O valoroso espírito então orientou ao Chico que ele se concentrasse durante uma hora por dia e também se dispusesse a datilografar outra hora por dia, durante o tempo em que perdurasse a psicografia do romance, que ficou conhecido por Há 2000 anos.

        Veja bem meus caros leitores que estes são bastidores – e quantos não existiram que desconhecemos – que refletem a luta do médium, consigo mesmo, para, tal qual a superfície polida de um espelho cristalino, refletir com a maior fidelidade possível o que está recebendo do plano superior. Nesta hora é importante lembrar da nossa indisciplina e dificuldade de focar nas pequenas tarefas mediúnicas que realizamos em nossas casas espíritas, para deduzir o quanto podemos estar à mercê dos espíritos imperfeitos e da qualidade, muita vez questionável, dos nossos resultados nestas tarefas.

         Mas nosso querido Chico prossegue em sua narrativa trazendo-nos mais luz:

Quando o livro começou, ele inicia com uma cena de dois romanos a trocarem ideias no jardim, diante de um céu nebuloso que depois rebentou numa tempestade. Eu comecei a ver aquela cidade e o céu tempestuoso e a chuva caindo e aqueles dois homens vestidos à moda antiga, de túnicas, deitados naqueles sofás longos, comendo frutas com as mãos. Eu me assustei com aquela visão que parecia uma visão estranha porque estava dentro de mim e fora de mim. Comecei a assistir só, a um cinema em que eu tomasse parte na tela e estivesse fora da tela. Então eu me assustei. Parei de escrever. Então Emmanuel me disse: ”Você está debaixo de uma certa hipnose. Você está vendo o que eu estou pensando. Mas não sabe o que eu estou escrevendo.” De modo que eu vivi muito mais o romance ao recebê-lo, do que ao ler ou reler o que eu escrevia.

        Chico Xavier “funcionando” neste episódio como médium inconsciente e, simultaneamente, vendo as cenas como de um filme – e que filme hein! -  para, com maior fidelidade, registrar suas impressões para comporem um dos mais belos romances da parceria com Emmanuel.

      Desejamos acrescentar que no livro Mediunidade plena, psicografada por Carlos Baccelli pelo espírito Dr. Odilon Fernandes orienta ao médium que realmente deseja servir à Causa, deve reservar em sua mente um “espaço permanente” para que os espíritos, quando necessário, possam acioná-lo ao desejar entrar em contato. Vale enfatizar que este espaço deve ser ocupado com pensamentos elevados, boas ações e leituras edificantes. Em quase total maioria, os médiuns somente ocupam os espaços mentais com as preocupações da vida cotidiana pela luta do pão de cada dia, o que é necessário e louvável, porém não deve nos abdicar dos exercícios de tom superior a que devemos nos submeter quando, principalmente, nos compromissamos com as tarefas da mediunidade. Pertinente recordar a parábola dos talentos, pois sem os nossos mínimos esforços, não deixemos estagnar em nós próprios, sementes de belas e promissoras faculdades.

          Na próxima semana abordaremos o segundo episódio legado pelo Chico, para nossos estudos e reflexões.

Todos os grifos são nossos.

Referências:

(1) Francisco Cândido Xavier. Pinga-Fogo. EDICEL, São Paulo, 1971, 71p.

(2) Odilon Fernandes. Mediunidade plena. Psicografado por Carlos A. Baccelli. 1ª ed. Editora DIDIER, Votuporanga, 2025. 214p.

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

                      Elias, João Batista, Espírito da Verdade.

 

Elias é reconhecido como um importante profeta e precursor do Messias tendo vivido no século IX a.C. O novo testamento relata que tanto João Batista quanto Jesus foram associados a Elias e que João Batista teria vindo "no espírito e poder de Elias", entretanto, no entendimento da Doutrina Espírita, João Batista é a reencarnação de Elias. Aliás, o próprio Mestre nos fala disso.

É conhecida a passagem da Transfiguração no monte Tabor em que Moisés e Elias, com seus espíritos materializados, ladeiam a excelsa figura do Cristo transfigurado, com os apóstolos Pedro, Tiago e João presenciando o inesquecível fenômeno. Moisés, Jesus e Elias, representado as três revelações que Allan Kardec estuda logo no primeiro capítulo de O Evangelho Segundo o Espiritismo.  

Quando descem do monte, os discípulos o interrogam, dizendo:

Por que dizem, então, os escribas que é mister que Elias venha primeiro?

Jesus responde-lhes:

Em verdade Elias virá primeiro e restaurará todas as coisas. Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do Homem. Então, entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista. (Mateus 17: 9-13)

Maravilhoso!

Jesus, claramente se referindo ao conceito da reencarnação e seus discípulos, pensando neste princípio, reconhecem que o Batista era, sem dúvida, Elias reencarnado.

Restaurar todas as coisas” é o que o Espiritismo viria realizar, após dezoito séculos, sob a coordenação do Espírito da Verdade.

 Posteriormente, vamos ver que o próprio Cristo testemunharia a respeito de João Batista, enaltecendo a sua missão quando diz:

 

“Em verdade vos digo que, entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista, mas aquele que é o menor no Reino dos céus é maior do que ele. ” (Mateus, 11.11)

 Entendemos que João Batista arcaria com a responsabilidade de abrir para a Humanidade uma nova era. Nenhum outro espírito havia encarnado com missão maior que a de João Batista, e é por isso que Jesus diz que, dos nascidos de mulher, nenhum foi maior do que João Batista; entretanto, conquanto justifique o amor que o povo consagrava a João Batista, o Mestre adverte-o de que no mundo espiritual existiam Espíritos ainda maiores, por serem mais evoluídos que João Batista.

Segundo as anotações de Mateus, Jesus volta a afirmar:

“Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João. E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça” (Mateus, 11: 13-15)

Interessante constar que Malaquias, profeta judeu que viveu em 500 a.C., anunciou que Elias retornaria e que deveria preparar o caminho para a vinda do Senhor (4:5,6). É ainda, este mesmo profeta, evocando Isaías (40:3):

“Voz que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai no ermo vereda a nosso Deus”

A fama de João Batista se alastrou rapidamente, principalmente pela contundência de suas palavras sem perder a oportunidade de dizer:

 

O machado já está posto à raiz das árvores, e toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada no fogo. E eu, em verdade, vos batizo com água, para o arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas sandálias não sou digno de levar; ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo.”

 Pelo batismo, prática que herdara dos essênios, João Batista realizou muitas curas naqueles que o procuravam, até que certo dia, um Homem aproxima-se a passos calmos e ele reconhece o Messias que anunciava. A partir daí, João sai de cena orientando seus seguidores para que o esquecessem e seguissem a Jesus.

 

“É necessário que Ele cresça e que eu diminua”    

João Batista sofreu pelo seu sacrifício pela Verdade, mas não somente por ela. Em razão da lei de causa e efeito, vem a sofrer a pena de decapitação, como saldo da dívida que havia contraído quando, na condição do espírito Elias, nos tempos do Rei Acabe, no ápice do Monte Carmelo, combateu os sacerdotes do deus Baal, ordenando que fossem decapitados. Aprendemos assim, que mesmo espíritos com alto grau de espiritualidade devem resgatar suas dívidas pendentes.

Quando Jesus diz, como vimos acima: “Em verdade Elias virá primeiro e restaurará todas as coisas”, fica claro que o Espírito da Verdade, que coordenou a codificação do Espiritismo na Terra, é a reencarnação de João Batista. Esse, por sua vez, era o médium do Cristo junto a Allan Kardec. O mestre lionês o considerava seu guia espiritual.

Na mensagem “Kardec e Napoleão” inserida no livro Cartas e Crônicas, psicografado por Chico Xavier, pelo espírito Irmão X, Napoleão em desdobramento no mundo espiritual, encontra-se em uma assembleia com “o mensageiro”, que seria O espirito da Verdade, e é por este, apresentado a Allan Kardec que ali também comparecia. Em determinado momento do encontro, o Espírito da Verdade que se dirige à Napoleão diz: “ouve a Verdade, que te fala em meu espírito! Eis-te à frente do apóstolo da fé, que sob a égide do Cristo”, ou seja, não poderia ser o Cristo que falava, pois se fosse, ao invés de ter dito “sob a égide do Cristo”, teria dito “sob a minha égide”.  

Todos estes pontos nos levam a acreditar que Elias, João Batista e o Espírito da Verdade, sejam o mesmo espírito comprometido desde há muito com Jesus Cristo em sua tarefa de fazer a Terra um planeta que caminhe para a terra da regeneração.

Concluo este artigo com um texto primoroso de Humberto de Campos no livro Boa Nova, chamado "Jesus e o Precursor" em que com enorme felicidade o autor retrata um encontro de dois jovens iniciando a adolescência, Jesus e João Batista, na casa de Maria e José:

“Maria e Isabel avistaram seus filhos, lado a lado, sobre uma eminência banhada pelos derradeiros raios vespertinos. De longe, afigurou-se-lhes que os cabelos de Jesus esvoaçavam ao sopro caricioso das brisas do alto. Seu pequeno indicador mostrava a João as paisagens que se multiplicavam a distância, como um grande general que desse a conhecer as minudências dos seus planos a um soldado de confiança. (...). Quem poderia saber qual a conversação solitária que se travara entre ambos? Distanciados no tempo, devemos presumir que fosse, na Terra, a primeira combinação entre o amor e a verdade, para a conquista do mundo. Sabemos, porém, que, na manhã imediata, em partindo o precursor na carinhosa companhia de sua mãe, perguntou Isabel a Jesus, com gracioso interesse: Não queres vir conosco? Ao que o pequeno carpinteiro de Nazaré respondeu, profeticamente, com inflexão de profunda bondade: “João partirá primeiro. ”

 Referências:

(1) BÍBLIA. Português. Bíblia sagradaTradução de Padre Antônio Pereira de Figueredo. Rio de Janeiro: Encyclopaedia Britannica, 1980. Edição Ecumênica.

(2) Irmão X. Cartas e Crônicas. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 7ª ed. Rio de Janeiro. Editora FEB, 1988. 181p.

(3) Humberto de Campos. Boa Nova. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1ª ed. Rio de Janeiro. Editora FEB, 1941. 208p.


segunda-feira, 13 de outubro de 2025

 

Espíritos errantes, erraticidade. Um breve diálogo.

 

Propomos, neste artigo, um estudo sobre o período de permanência do Espírito desencarnado no mundo espiritual, entre uma encarnação e outra. Este período foi denominado por Allan Kardec como erraticidade.

Destacaremos alguns trechos contidos nas obras básicas da codificação espírita, abordando o tema erraticidade e quando oportuno, na forma de um hipotético diálogo entre o aprendiz, o qual nos refletimos, e o orientador.

Entenda-se, é claro, que o tema é extenso e bastante complexo e, por essa razão, não temos a pretensão de esgotá-lo. Necessário também informar que abordaremos este assunto considerando as dimensões mais próximas e conhecidas do nosso sistema planetário, citadas na literatura espírita, que procura levantar o véu, auxiliando nosso entendimento e compreensão. Isto porque, devem existir outras dimensões, onde o modo de vida dos espíritos, neste importante período de vida que medeia uma encarnação e outra, denominado erraticidade, nos são totalmente desconhecidas.  

Vamos então ao diálogo.

 

- O que é um espírito errante?

R. Aquele que, desencarnado, aspira a novo destino, aguarda nova oportunidade de Deus para encarnar e prosseguir sua trajetória evolutiva.

- Ser espírito errante é um sinal de inferioridade?

R. Não necessariamente, melhor considerar um estado de imperfeição do espírito. Espíritos de todos os níveis, inclusive superiores, podem passar por este estado para se preparar para uma nova encarnação. Somente os espíritos considerados puros, deixam a condição de errantes.

- Pode o espírito, neste período chamado de erraticidade, progredir?

R. Sim, aliás podem melhorar muito, basta que demonstrem boa vontade e desejo para se desenvolver.

- Então, de que maneira os espíritos desencarnados podem desenvolver-se na erraticidade?

R. Como dito e repito, em primeiro lugar ter vontade e desejar o intento o qual, sem que percebamos, inicia-se aqui mesmo na Terra quando nos esforçamos e nos desdobramos para buscarmos, através das diversas ferramentas, nosso progresso. O espírito encarnado cônscio dos seus deveres, estudioso, trabalhador e de postura reta tende a continuar assim na erraticidade. Por outro lado, o oposto também é verdadeiro. Pessoas indolentes, preguiçosas que não querem nada com nada e que nada ou quase nada se esforçam para melhorarem em seu atual plano de vida, tenderão a não fazê-lo quando desencarnados.

Muito oportuno recordar o ensinamento registrado por Chico Xavier em Nosso Lar quando a mãe de André Luiz visita-o no hospital e conta da dificuldade de auxiliar a seu pai que demorava-se 12 anos no Umbral: “Após a morte do corpo físico a alma se encontra tal qual vive intrinsecamente”. 

O que somos no íntimo e que nos caracteriza como espírito, de ordinário, só muito lentamente se altera. São necessários ingentes esforços para lograr a melhora íntima.

- Ok, entendi, porém objetivamente, como progredir durante a erraticidade? Você falou em ferramentas.

R. Sim, são os recursos. Estudar, pesquisar, trabalhar, fazer períodos de observação para aprendizado como os nossos estágios aqui na Terra. Acrescento, envolver-se em grupos preocupados em trabalhar para o bem dos irmãos necessitados, enfim, conviver com companhias que lhe induza a buscar sempre o progresso. Participam de cursos, assistem palestras com espíritos mais elevados e tudo isso lhes incute, pouco a pouco, ideias que antes não tinham. Quero dizer com isso que, embora possam permanecer longo tempo imbuído das ideias que tinha quando encarnados na Terra, os conceitos, as concepções podem mudar.

As pessoas melhoram se desejarem e fazerem acontecer. Lembrando que este progresso realizado na erraticidade, pode exercer franca influência positiva sobre a futura reencarnação do espírito.

Segundo a Doutrina Espírita, a alma que tomou boas resoluções na erraticidade e que possui conhecimentos adquiridos, traz, ao renascer, menos defeitos, mais virtudes e ideias intuitivas, do que tinha na sua existência precedente. Por outra, é um espírito melhorado.

- Poderia me dar um exemplo?

R. Sim, no livro Momentos com Chico Xavier, de autoria de Adelino da Silveira, na lição Sacrifícios do Amor, Chico nos conta que sua mãe havia se formado em Assistente Social no mundo espiritual.

- Nossa, a resposta anterior foi longa, mas aprendi muito com ela. Então, pelo que entendi, as ideias do Espírito sobre determinado assunto, como por exemplo uma pessoa preconceituosa aqui na Terra, pelo aprendizado adquirido quando na erraticidade, pode se modificar e ele deixar de ser preconceituoso?

R. Sim, exatamente isso. Porém, lembre-se que, somente encarnando novamente é que o espírito poderá provar se o que aprendeu passou a fazer parte, de forma concreta, de seu patrimônio espiritual. Daí a importância da reencarnação para o aprendizado do espírito. É na carne, sob a injunção das provas, que ele demonstra a fixação do novo conceito. Entendeu?

- Sim, muito claro. Outra pergunta, quanto tempo pode durar a erraticidade. É igual para todos os espíritos desencarnados?

R. Não. O tempo pode variar ao infinito, desde algumas horas até alguns milhares de séculos. Não há um extremo limite estabelecido para o estado de erraticidade, mas uma coisa é certa, nunca é perpétuo.

- Quer dizer então, que o espírito pode reencarnar imediatamente após ter morrido o corpo físico, como pode demorar muito tempo?

R. Exatamente, você entendeu bem. Na questão 224a de O Livro dos Espíritos, consta que este tempo pode ser de algumas horas até alguns milhares de séculos. Porém, normalmente, o retorno à carne ocorre após intervalos de tempo mais ou menos longos.

- Gostaria de saber se na erraticidade o espírito tem alguma missão a cumprir ou isso somente ocorre quando encarnado?

R. Pode acontecer em ambas as situações. Como lhe disse, há trabalhos, incluindo missões que podem ser desempenhadas por espíritos desencarnados, especialmente os mais superiores que auxiliam a se cumprirem os desígnios divinos, quer na Terra, como também fora dela.

- Poderia citar alguns exemplos destas ocupações?

R. Sim, claro. Entenda antes, que as ocupações são adequadas ao grau de adiantamento dos espíritos. Uns percorrem os mundos, se instruem e preparam para nova encarnação. Outros, mais adiantados, se ocupam com o progresso, dirigindo os acontecimentos e sugerindo ideias que lhe sejam benéficas, outros tomam sob sua tutela os indivíduos, as famílias, as reuniões, as cidades e os povos, dos quais se constituem os anjos guardiães, os gênios protetores e os Espíritos familiares. Outros, finalmente, presidem aos fenômenos da Natureza, de que se fazem os agentes diretos.

- E os espíritos abaixo na escala evolutiva? Quais são suas ocupações?

R. A maioria deles se intromete em nossas ocupações e diversões. Os impuros ou imperfeitos aguardam, em sofrimentos e angústias, o momento em que Deus possa proporcionar-lhes meios de retomarem o caminho reto e se adiantarem.

- E isso os torna felizes? A propósito, há também espíritos errantes infelizes?

R. Cumprir uma missão em nome de Deus é sim motivo de muito júbilo para os espíritos, mormente se a desempenham a contento. Por outro lado, não são poucos os que, infelizmente, sofrem. Sofrem por efeito das paixões que conservam e de acordo com o grau de lucidez e desmaterialização que já atingiram, percebem o que lhes faltam para serem felizes e, desde então, procuram os meios de alcançá-lo. Outros tantos, que ainda não alcançaram a luz que lhes abram os “olhos de ver”, mantêm-se e, às vezes comprazem-se, em situação de espíritos apáticos e infelizes.     

- Entendido. Alguma mensagem para encerrar?

R. Vamos encontrar na obra Nosso Lar o conselho de Clarêncio para André Luiz quando este é convidado por Lísias a morar em sua casa e que deve servir de modelo para todos nós:

“Não perca tempo. O interstício das experiências carnais deve ser bem aproveitado.” 

- Obrigado pelos ensinamentos.

R. Eu quem lhe agradeço. Abraço e até a próxima.

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Dr. Inácio Ferreira

 Inácio Ferreira nasceu na cidade de Uberaba Minas Gerais em 15 de abril de 1904. Filho do Sr. Jacinto Ferreira de Oliveira e da Sra. Maria Lucas de Oliveira. Ausentou-se de sua cidade a fim de estudar medicina na Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil no Rio de Janeiro, atual UFRJ. Ao término dos estudos, formado em psiquiatria, retorna à cidade natal com a tarefa predestinada ao espíritismo cristão, embora ainda não havia se tornado espírita neste período da sua vida.

Iniciada sua construção no ano de 1925, por uma personagem muito querida daquela região, Maria Modesto Cravo, médium de grande abnegação cristã, o Sanatório Espírita de Uberaba foi inaugurado no dia 31 de dezembro de 1933. Logo mais, Dr. Inácio assume a direção da instituição - posição que manteve por mais de 50 anos - e estabelece assistência gratuita e fraterna à luz do Espiritismo.

Interessante que, ao aceitar o convite para atuar no Sanatório Espírita de Uberaba, isso por volta do ano de 1933, Dr. Inácio se declarava materialista e não era espírita. Reproduzimos aqui parte de uma entrevista do Dr. Inácio concedida ao irmão Dr. Elias Barbosa em 1970, sobre sua adesão ao Espiritismo:

 

- “Como foi, Dr. Inácio, que o senhor se tornou espírita?

- Pela recusa de vários médicos em atender a responsabilidade do funcionamento do Sanatório Espírita de Uberaba, na década de trinta – perante as autoridades e a sociedade – pelo prejuízo que poderia acarretar as suas clínicas, aceitei o convite, com decisão e desprendimento. Não conhecia e nada entendia do Espiritismo.

- Na véspera da inauguração do Sanatório, recebi de Maria Modesto Cravo, então diretora administrativa, dois livros com a dedicatória do Dr. Bezerra de Menezes. O primeiro, O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec e o segundo, Código Penal Brasileiro, aos quais pouco liguei. Somente um ano mais tarde, após inúmeras observações de casos maravilhosos de cura no Sanatório, sem que minha ciência materialista e minha terapêutica para isso contribuíssem, tive a curiosidade despertada para aqueles dois códigos, o Divino e o humano. ”

A partir deste conhecimento, procurou sempre associar o tratamento psiquiátrico convencional à terapia espírita e reuniões de desobsessão, acompanhado por Dona Maria Modesto. Importante ressaltar que muito diálogos travados com espíritos inferiores que obsediavam os pacientes do Sanatório, estão registradas em diversas obras ditadas ao médium Carlos Baccelli. Aos interessados, mencionamos duas delas: “Sob as cinzas do tempo” e “Por amor ao ideal”.

O ciclo literário de Inácio Ferreira enfatiza a era da psiquiatria voltada ao espiritismo. Demonstrada pelas inúmeras curas de doentes do Sanatório envolvidos naquilo que se convencionou chamar de loucura, e comprovadamente curados através de sessões espíritas realizadas.

Os livros “Novos Rumos à Medicina”, Volumes I e II, “Psiquiatria em Face da Reencarnação”, considerado o melhor tratado sobre obsessão e cura espiritual, teve sua primeira edição em 1940 e “Espiritismo e Medicina”, entre outros, colocam o Dr. Inácio Ferreira como o pioneiro na utilização dos conceitos da Doutrina Espírita no tratamento das perturbações psíquicas graves.

Segundo relatório com as atividades de 1934 a 1944 do Sanatório de Uberaba, 1352 pacientes deram entrada, 554 (41%) saíram curados, 210 (16%) melhorados, 163 (12%) transferidos, 341 (25%) foram retirados e 51 (4%) evoluíram para óbito. Neste período, 423 casos foram catalogados como obsessão, sendo esta a classe diagnóstica que permitia maior percentual de cura.

Sem dúvida, Dr. Inácio Ferreira contribuiu de modo significativo para a institucionalização das práticas e representações propostas pelo espiritismo para o diagnóstico e tratamento dos transtornos mentais, destacando a influência dos espíritos e a reencarnação. Além de ser o principal disseminador desses princípios tanto no Brasil como no exterior.

 No periódico “O Triângulo Espírita”, órgão da Aliança Municipal Espírita de Uberaba, de julho de 1967, questionou-se a Chico Xavier, que tendo viajado ao exterior nos anos de 1965 e 1966, se ele encontrara, entre os espíritas do Brasil, o nome de algum projetado em outros países. Respondeu Chico:

 

“O nome do nosso abnegado Dr. Inácio Ferreira é profundamente respeitado fora do Brasil. Em Londres, quando lá estivemos em agosto de 1965, Mr. Maurice Barbanell diretor do jornal “Psychic News” perguntou-nos pessoalmente pela a saúde e pelo trabalho de nosso caro Dr. Inácio. Em 1965 ouvi das melhores referências às obras dele da parte do nosso confrade Mr. Victor Buttler em Nova York e em 1966 tive a satisfação de registrar apontamentos de muita admiração e carinho em torno dele na palavra de amigos residentes na Carolina do Norte. ”

 No campo espírita, ainda encarnado, Dr. Inácio Ferreira publicou “Conselhos ao Meu Filho” e “As estradas da Vida”, bem como uma vasta coleção de livros para crianças, dentro da pedagogia espírita infantil.

Foi o primeiro a escrever sobre Eurípedes Barsanulfo, “Subsídios Para a História de Eurípedes Barsanulfo” que relata o processo judicial movido por padres católicos contra o médium da cidade de Sacramento, onde Eurípedes viveu. A obra descreve algumas das inúmeras curas realizadas por Eurípedes Barsanulfo de pessoas até então desenganadas pela medicina terrena. Escreveu ainda encarnado “A religião do índio brasileiro”, “Enquetes” e “O Papa negro”, dentre outros. Esteve à frente, durante muitos anos, da mocidade espírita de Uberaba e foi diretor da Flama Espírita de Uberaba, jornal espírita de circulação semanal.

Segundo depoimento de Carlos Baccelli, Chico Xavier afirmou que o Dr. Inácio Ferreira conseguiu realizar duas encarnações em uma só. Ao ser questionada a razão desta afirmação, Chico respondeu que quando dormia, ele se despreendia do corpo físico e ia trabalhar no mundo espiritual, continuando atividades semelhantes às que realizava enquanto no corpo. Auxiliou de diversas maneiras, inclusive financeiramente, a construção e manutenção de vários centros espíritas em Uberaba.

Por volta dos 70 anos de idade, já com problemas de saúde, dentre eles, enfisema pulmonar, começou a restringir suas atividades médicas, bem como doutrinárias. Homem muito inteligente e de grande coração, Dr. Inácio nutria grande amor pelos animais, especialmente pelos gatos, aos quais possuía muitos em sua casa.

Com a colaboração de Dona Modesta, do generoso filantropo Abdon Alonso y Alonso e outros, Dr. Inácio Ferreira concretizou em dois anos, (1947/1949), a construção do Lar Espírita, instituição para abrigar e educar meninas desvalidas. O terreno foi comprado e doado pelo Dr. Inácio.

Por experiência própria, posso afirmar que a leitura das obras do Dr. Inácio, psicografadas pelo médium Carlos Baccelli, me fizeram revisitar as obras de André Luiz e muitas de Emmanuel. Eu já havia lido, por uma vez, toda a obra de André Luiz, conhecida como A Vida no Mundo Espiritual, que perfazem 13 livros, mas confesso que muito pouco havia compreendido, como se diz, não conseguira extrair o espírito da letra.

Ao iniciar a leitura das obras do Dr. Inácio, desde a primeira, denominada Sob as cinzas do tempo, no início dos anos 2000, percebi uma leitura agradável, extremamente leve e acessível no campo da compreensão, entremeada com muito bom humor e alegria. Tive a nítida impressão que elas transmitiam e estimulavam-me a ler ou a reler as obras de Chico Xavier, notadamente as de André Luiz e de Emmanuel. Pela forma espontânea e simples que escreve, e pelas explicações de importantes trechos das obras deste autores referidos,  tornou-as mais ao alcance das pessoas com maior dificuldade, como me considero, de aprofundar e penetrar na essência das mesmas. Aliás, esta sensação é compartilhada por grande número de seus leitores que manifestam a mesma sensação em diversos comentários sobre os livros da lavra do médico uberabense.

A parceria mediúnica entre o médium Carlos Baccelli e o Dr. Inácio Ferreira legou-nos obras de riquíssimo conteúdo atestando uma parceria de muito êxito que, no findar do ano de 2025, precisamos enaltecer e destacar este verdadeiro jubileu de prata, visto que, o prefácio da primeira edição do livro “Sob as cinzas do tempo”, primeiro de sua lavra mediúnica, é datada de 15 de maio do ano 2000. Em 25 anos, foram 61 obras publicadas, em uma média de quase três obras por ano, abordando diversos e importantes temas de real interesse para a doutrina e para os estudos dos interessados. 

Com expressiva atuação desenvolvida em vários campos de trabalho, sobretudo à frente do Sanatório Espírita de Uberaba, atualmente o espírito Dr. Inácio é diretor do hospital dos médiuns, além de ter realizado um velho sonho que foi fundar uma Sociedade Protetora dos animais “Francisco de Assis”, ambos localizados na dimensão espiritual de Uberaba

Desencarnado, sempre com a mente voltada para o trabalho e divulgação dos postulados espíritas, Dr. Inácio, através da mediunidade de Baccelli, criou e mantém o primeiro Blog entre o mundo físico e o mundo espiritual, que se tem conhecimento, denominado Mediunidade na Internet (https://inacioferreira-baccelli.blogspot.com/). Nele, interage com os leitores e conta, atualmente, com mais de um milhão e cem mil acessos. No livro de sua autoria, “A Vida viaja na Luz” – primeira edição em 2011 - no capítulo 2, ele faz referência à criação do Blog, que já rendeu a publicação de dois livros: “O Pensamento do Dr. Inácio” (2012) e “Diálogos com Dr. Inácio” (2014) conduzindo os leitores a importantes reflexões sobre temas diversos da vida cotidiana.

Entre nós, Dr. Inácio Ferreira desencarnou no dia 27 de setembro de 1988, com 84 anos de idade, porém para nossa felicidade, permanece fiel ao Cristo na pátria espiritual, nos brindando com seus conhecimentos e valiosas orientações.

 

 

 

 


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