A questão da sintonia no processo
mediúnico
Ainda que
superficialmente, conhecemos a importância que a sintonia exerce sobre a
ocorrência do fenômeno mediúnico. Muitos textos em obras respeitáveis, tem nos
aclarado a questão. Porém, também consideramos que por mais saibamos é
necessário pensar que distantes ainda nos encontramos do pleno saber, e sobre
este aspecto, concordamos plenamente com Dr. Odilon ao afirmar que em matéria de
mediunidade "estamos saindo da caverna".
Este entrosamento
espiritual entre espírito desencarnado e médium não se improvisa e quer seja nos fenômenos mediúnicos de natureza
intelectual ou física, necessário se faz uma certa compatibilidade entre ambos para
que se reduzam “os ruídos” no processamento do fenômeno.
O nosso amado Chico Xavier, passou duas vezes, de nosso conhecimento, por interessantes experiências que, segundo ele próprio informa, foram necessárias para darem prosseguimento ao trabalho que vinha realizando. Transcrevemos os fatos para nossa aprendizagem. A primeira delas foi quando ia iniciar a psicografia do livro Há 2000 anos e que foi narrada, pelo próprio Chico, no programa Pinga-Fogo:
“Quando ouvi a respeito
dos romances mediúnicos recebidos pela médium Zilda Gama, eu senti aquele
desejo de ser médium também para romances, isso por volta de 1936. Nessa
ocasião lidava com um grupo de crianças da família porque, pelo fato de eu não
ter renascido nesta existência para o
casamento, fiquei com 14 crianças, irmãos
menores e sobrinhos dos quais presentemente eu estou distante por haverem
crescido e tomado as suas responsabilidades. Nesse tempo a minha cabeça era
atormentada por muitos problemas. Quando eu anunciei o desejo de receber
romances, o espírito Emmanuel então me explicou: Para que você receba romances,
você precisa ter a mente em estado de profunda serenidade. Se você quiser se
comprometer a nos oferecer um clima mental adequado, de paciência e de calma,
escreveremos por você algumas de nossas memórias.
Somente quase
4 anos após, no ano de 1939, o médium mineiro conseguiu assumir com Emmanuel o
compromisso de se acalmar e que quaisquer que fossem os problemas dentro de
casa, com as crianças que já se encontravam mais crescidas, Chico ofereceria a
ele um campo mental mais pacificado na oração. O valoroso espírito então orientou
ao Chico que ele se concentrasse durante uma hora por dia e também se
dispusesse a datilografar outra hora por dia, durante o tempo em que perdurasse
a psicografia do romance, que ficou conhecido por Há 2000 anos.
Veja bem
meus caros leitores que estes são bastidores – e quantos não existiram que
desconhecemos – que refletem a luta do médium, consigo mesmo, para, tal qual a
superfície polida de um espelho cristalino, refletir com a maior fidelidade
possível o que está recebendo do plano superior. Nesta hora é importante lembrar
da nossa indisciplina e dificuldade de focar nas pequenas tarefas mediúnicas que
realizamos em nossas casas espíritas, para deduzir o quanto podemos estar à mercê
dos espíritos imperfeitos e da qualidade, muita vez questionável, dos nossos
resultados nestas tarefas.
Mas nosso
querido Chico prossegue em sua narrativa trazendo-nos mais luz:
Quando o livro começou,
ele inicia com uma cena de dois romanos a trocarem ideias no jardim, diante de
um céu nebuloso que depois rebentou numa tempestade. Eu comecei a ver aquela
cidade e o céu tempestuoso e a chuva caindo e aqueles dois homens vestidos
à moda antiga, de túnicas, deitados naqueles sofás longos, comendo frutas com
as mãos. Eu me assustei com aquela visão que parecia uma visão estranha
porque estava dentro de mim e fora de mim. Comecei a assistir só, a um
cinema em que eu tomasse parte na tela e estivesse fora da tela. Então eu me
assustei. Parei de escrever. Então Emmanuel me disse: ”Você está debaixo de
uma certa hipnose. Você está vendo o que eu estou pensando. Mas não sabe o que
eu estou escrevendo.” De modo que eu vivi muito mais o romance ao recebê-lo, do
que ao ler ou reler o que eu escrevia.
Chico Xavier “funcionando” neste episódio como médium
inconsciente e, simultaneamente, vendo as cenas como de um filme – e que filme
hein! - para, com maior fidelidade,
registrar suas impressões para comporem um dos mais belos romances da parceria
com Emmanuel.
Desejamos acrescentar que no livro Mediunidade plena, psicografada por Carlos Baccelli pelo espírito
Dr. Odilon Fernandes orienta ao médium que realmente deseja servir à Causa,
deve reservar em sua mente um “espaço permanente” para que os espíritos, quando
necessário, possam acioná-lo ao desejar entrar em contato. Vale enfatizar que
este espaço deve ser ocupado com pensamentos elevados, boas ações e leituras
edificantes. Em quase total maioria, os médiuns somente ocupam os espaços
mentais com as preocupações da vida cotidiana pela luta do pão de cada dia, o
que é necessário e louvável, porém não deve nos abdicar dos exercícios de tom
superior a que devemos nos submeter quando, principalmente, nos compromissamos
com as tarefas da mediunidade. Pertinente recordar a parábola dos talentos, pois sem os nossos mínimos esforços, não deixemos estagnar em nós próprios, sementes de belas e promissoras faculdades.
Na próxima semana abordaremos o segundo episódio legado
pelo Chico, para nossos estudos e reflexões.
Todos os grifos são nossos.
Referências:
(1) Francisco Cândido Xavier. Pinga-Fogo. EDICEL, São Paulo, 1971,
71p.
(2) Odilon Fernandes. Mediunidade plena. Psicografado por Carlos A.
Baccelli. 1ª ed. Editora DIDIER, Votuporanga, 2025. 214p.