Espíritos errantes, erraticidade. Um breve diálogo.
Propomos,
neste artigo, um estudo sobre o período de permanência do Espírito desencarnado
no mundo espiritual, entre uma encarnação e outra. Este período foi denominado
por Allan Kardec como erraticidade.
Destacaremos
alguns trechos contidos nas obras básicas da codificação espírita, abordando o
tema erraticidade e quando oportuno, na forma de um hipotético diálogo entre o
aprendiz, o qual nos refletimos, e o orientador.
Entenda-se,
é claro, que o tema é extenso e bastante complexo e, por essa razão, não temos
a pretensão de esgotá-lo. Necessário também informar que abordaremos este
assunto considerando as dimensões mais próximas e conhecidas do nosso sistema planetário,
citadas na literatura espírita, que procura levantar o véu, auxiliando nosso
entendimento e compreensão. Isto porque, devem existir outras dimensões, onde o
modo de vida dos espíritos, neste importante período de vida que medeia uma
encarnação e outra, denominado erraticidade, nos são totalmente desconhecidas.
Vamos
então ao diálogo.
- O que é um espírito errante?
R.
Aquele que, desencarnado, aspira a novo destino, aguarda nova oportunidade de
Deus para encarnar e prosseguir sua trajetória evolutiva.
- Ser espírito errante é um
sinal de inferioridade?
R.
Não necessariamente, melhor considerar um estado de imperfeição do espírito. Espíritos de todos os níveis, inclusive superiores, podem passar por
este estado para se preparar para uma nova encarnação. Somente os
espíritos considerados puros, deixam a condição de errantes.
- Pode o espírito, neste período
chamado de erraticidade, progredir?
R.
Sim, aliás podem melhorar muito, basta que demonstrem boa vontade e desejo para
se desenvolver.
- Então, de que maneira os
espíritos desencarnados podem desenvolver-se na erraticidade?
R.
Como dito e repito, em primeiro lugar ter vontade e desejar o intento o qual, sem
que percebamos, inicia-se aqui mesmo na Terra quando nos esforçamos e nos
desdobramos para buscarmos, através das diversas ferramentas, nosso progresso.
O espírito encarnado cônscio dos seus deveres, estudioso, trabalhador e de
postura reta tende a continuar assim na erraticidade. Por outro lado, o oposto
também é verdadeiro. Pessoas indolentes, preguiçosas que não querem nada com
nada e que nada ou quase nada se esforçam para melhorarem em seu atual plano de
vida, tenderão a não fazê-lo quando desencarnados.
Muito
oportuno recordar o ensinamento registrado por Chico Xavier em Nosso Lar quando
a mãe de André Luiz visita-o no hospital e conta da dificuldade de auxiliar a
seu pai que demorava-se 12 anos no Umbral: “Após
a morte do corpo físico a alma se encontra tal qual vive intrinsecamente”.
O
que somos no íntimo e que nos caracteriza como espírito, de ordinário, só muito
lentamente se altera. São necessários ingentes esforços para lograr a melhora
íntima.
- Ok, entendi, porém objetivamente, como
progredir durante a erraticidade? Você falou em ferramentas.
R. Sim,
são os recursos. Estudar, pesquisar, trabalhar, fazer períodos de observação
para aprendizado como os nossos estágios aqui na Terra. Acrescento, envolver-se
em grupos preocupados em trabalhar para o bem dos irmãos necessitados, enfim, conviver
com companhias que lhe induza a buscar sempre o progresso. Participam de
cursos, assistem palestras com espíritos mais elevados e tudo isso lhes incute,
pouco a pouco, ideias que antes não tinham. Quero dizer com isso que, embora
possam permanecer longo tempo imbuído das ideias que tinha quando encarnados na
Terra, os conceitos, as concepções podem mudar.
As
pessoas melhoram se desejarem e fazerem acontecer. Lembrando que este progresso
realizado na erraticidade, pode exercer franca influência positiva sobre a
futura reencarnação do espírito.
Segundo
a Doutrina Espírita, a alma que tomou boas resoluções na erraticidade e que
possui conhecimentos adquiridos, traz, ao renascer, menos defeitos, mais
virtudes e ideias intuitivas, do que tinha na sua existência precedente. Por
outra, é um espírito melhorado.
- Poderia me dar um exemplo?
R. Sim,
no livro Momentos com Chico Xavier, de autoria de Adelino da Silveira, na lição
Sacrifícios do Amor, Chico nos conta que sua mãe havia se formado em Assistente
Social no mundo espiritual.
- Nossa, a resposta anterior foi longa,
mas aprendi muito com ela. Então, pelo que entendi, as ideias do Espírito sobre
determinado assunto, como por exemplo uma pessoa preconceituosa aqui na Terra,
pelo aprendizado adquirido quando na erraticidade, pode se modificar e ele
deixar de ser preconceituoso?
R.
Sim, exatamente isso. Porém, lembre-se que, somente encarnando novamente é que
o espírito poderá provar se o que aprendeu passou a fazer parte, de forma
concreta, de seu patrimônio espiritual. Daí a importância da reencarnação para
o aprendizado do espírito. É na carne, sob a injunção das provas, que ele
demonstra a fixação do novo conceito. Entendeu?
- Sim, muito claro. Outra pergunta, quanto
tempo pode durar a erraticidade. É igual para todos os espíritos desencarnados?
R. Não.
O tempo pode variar ao infinito, desde algumas horas até alguns milhares de
séculos. Não há um extremo limite estabelecido para o estado de erraticidade,
mas uma coisa é certa, nunca é perpétuo.
- Quer dizer então, que o espírito pode
reencarnar imediatamente após ter morrido o corpo físico, como pode demorar
muito tempo?
R. Exatamente,
você entendeu bem. Na questão 224a de O Livro dos Espíritos, consta que este
tempo pode ser de algumas horas até alguns milhares de séculos. Porém,
normalmente, o retorno à carne ocorre após intervalos de tempo mais ou menos
longos.
- Gostaria de saber se na erraticidade o
espírito tem alguma missão a cumprir ou isso somente ocorre quando encarnado?
R. Pode
acontecer em ambas as situações. Como lhe disse, há trabalhos, incluindo
missões que podem ser desempenhadas por espíritos desencarnados, especialmente
os mais superiores que auxiliam a se cumprirem os desígnios divinos, quer na
Terra, como também fora dela.
- Poderia citar alguns exemplos destas
ocupações?
R. Sim,
claro. Entenda antes, que as ocupações são adequadas ao grau de adiantamento
dos espíritos. Uns percorrem os mundos, se instruem e preparam para nova
encarnação. Outros, mais adiantados, se ocupam com o progresso, dirigindo os
acontecimentos e sugerindo ideias que lhe sejam benéficas, outros tomam sob sua
tutela os indivíduos, as famílias, as reuniões, as cidades e os povos, dos
quais se constituem os anjos guardiães, os gênios protetores e os Espíritos
familiares. Outros, finalmente, presidem aos fenômenos da Natureza, de que se
fazem os agentes diretos.
- E os espíritos abaixo na escala
evolutiva? Quais são suas ocupações?
R. A
maioria deles se intromete em nossas ocupações e diversões. Os impuros ou
imperfeitos aguardam, em sofrimentos e angústias, o momento em que Deus possa
proporcionar-lhes meios de retomarem o caminho reto e se adiantarem.
- E isso os torna felizes? A propósito, há
também espíritos errantes infelizes?
R. Cumprir
uma missão em nome de Deus é sim motivo de muito júbilo para os espíritos,
mormente se a desempenham a contento. Por outro lado, não são poucos os que,
infelizmente, sofrem. Sofrem por efeito das paixões que conservam e de acordo
com o grau de lucidez e desmaterialização que já atingiram, percebem o que lhes
faltam para serem felizes e, desde então, procuram os meios de alcançá-lo.
Outros tantos, que ainda não alcançaram a luz que lhes abram os “olhos de ver”,
mantêm-se e, às vezes comprazem-se, em situação de espíritos apáticos e
infelizes.
- Entendido. Alguma mensagem para
encerrar?
R.
Vamos encontrar na obra Nosso Lar o conselho de Clarêncio para André Luiz
quando este é convidado por Lísias a morar em sua casa e que deve servir de
modelo para todos nós:
“Não perca tempo. O interstício das
experiências carnais deve ser bem aproveitado.”
- Obrigado pelos ensinamentos.
R.
Eu quem lhe agradeço. Abraço e até a próxima.
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