segunda-feira, 13 de outubro de 2025

 

Espíritos errantes, erraticidade. Um breve diálogo.

 

Propomos, neste artigo, um estudo sobre o período de permanência do Espírito desencarnado no mundo espiritual, entre uma encarnação e outra. Este período foi denominado por Allan Kardec como erraticidade.

Destacaremos alguns trechos contidos nas obras básicas da codificação espírita, abordando o tema erraticidade e quando oportuno, na forma de um hipotético diálogo entre o aprendiz, o qual nos refletimos, e o orientador.

Entenda-se, é claro, que o tema é extenso e bastante complexo e, por essa razão, não temos a pretensão de esgotá-lo. Necessário também informar que abordaremos este assunto considerando as dimensões mais próximas e conhecidas do nosso sistema planetário, citadas na literatura espírita, que procura levantar o véu, auxiliando nosso entendimento e compreensão. Isto porque, devem existir outras dimensões, onde o modo de vida dos espíritos, neste importante período de vida que medeia uma encarnação e outra, denominado erraticidade, nos são totalmente desconhecidas.  

Vamos então ao diálogo.

 

- O que é um espírito errante?

R. Aquele que, desencarnado, aspira a novo destino, aguarda nova oportunidade de Deus para encarnar e prosseguir sua trajetória evolutiva.

- Ser espírito errante é um sinal de inferioridade?

R. Não necessariamente, melhor considerar um estado de imperfeição do espírito. Espíritos de todos os níveis, inclusive superiores, podem passar por este estado para se preparar para uma nova encarnação. Somente os espíritos considerados puros, deixam a condição de errantes.

- Pode o espírito, neste período chamado de erraticidade, progredir?

R. Sim, aliás podem melhorar muito, basta que demonstrem boa vontade e desejo para se desenvolver.

- Então, de que maneira os espíritos desencarnados podem desenvolver-se na erraticidade?

R. Como dito e repito, em primeiro lugar ter vontade e desejar o intento o qual, sem que percebamos, inicia-se aqui mesmo na Terra quando nos esforçamos e nos desdobramos para buscarmos, através das diversas ferramentas, nosso progresso. O espírito encarnado cônscio dos seus deveres, estudioso, trabalhador e de postura reta tende a continuar assim na erraticidade. Por outro lado, o oposto também é verdadeiro. Pessoas indolentes, preguiçosas que não querem nada com nada e que nada ou quase nada se esforçam para melhorarem em seu atual plano de vida, tenderão a não fazê-lo quando desencarnados.

Muito oportuno recordar o ensinamento registrado por Chico Xavier em Nosso Lar quando a mãe de André Luiz visita-o no hospital e conta da dificuldade de auxiliar a seu pai que demorava-se 12 anos no Umbral: “Após a morte do corpo físico a alma se encontra tal qual vive intrinsecamente”. 

O que somos no íntimo e que nos caracteriza como espírito, de ordinário, só muito lentamente se altera. São necessários ingentes esforços para lograr a melhora íntima.

- Ok, entendi, porém objetivamente, como progredir durante a erraticidade? Você falou em ferramentas.

R. Sim, são os recursos. Estudar, pesquisar, trabalhar, fazer períodos de observação para aprendizado como os nossos estágios aqui na Terra. Acrescento, envolver-se em grupos preocupados em trabalhar para o bem dos irmãos necessitados, enfim, conviver com companhias que lhe induza a buscar sempre o progresso. Participam de cursos, assistem palestras com espíritos mais elevados e tudo isso lhes incute, pouco a pouco, ideias que antes não tinham. Quero dizer com isso que, embora possam permanecer longo tempo imbuído das ideias que tinha quando encarnados na Terra, os conceitos, as concepções podem mudar.

As pessoas melhoram se desejarem e fazerem acontecer. Lembrando que este progresso realizado na erraticidade, pode exercer franca influência positiva sobre a futura reencarnação do espírito.

Segundo a Doutrina Espírita, a alma que tomou boas resoluções na erraticidade e que possui conhecimentos adquiridos, traz, ao renascer, menos defeitos, mais virtudes e ideias intuitivas, do que tinha na sua existência precedente. Por outra, é um espírito melhorado.

- Poderia me dar um exemplo?

R. Sim, no livro Momentos com Chico Xavier, de autoria de Adelino da Silveira, na lição Sacrifícios do Amor, Chico nos conta que sua mãe havia se formado em Assistente Social no mundo espiritual.

- Nossa, a resposta anterior foi longa, mas aprendi muito com ela. Então, pelo que entendi, as ideias do Espírito sobre determinado assunto, como por exemplo uma pessoa preconceituosa aqui na Terra, pelo aprendizado adquirido quando na erraticidade, pode se modificar e ele deixar de ser preconceituoso?

R. Sim, exatamente isso. Porém, lembre-se que, somente encarnando novamente é que o espírito poderá provar se o que aprendeu passou a fazer parte, de forma concreta, de seu patrimônio espiritual. Daí a importância da reencarnação para o aprendizado do espírito. É na carne, sob a injunção das provas, que ele demonstra a fixação do novo conceito. Entendeu?

- Sim, muito claro. Outra pergunta, quanto tempo pode durar a erraticidade. É igual para todos os espíritos desencarnados?

R. Não. O tempo pode variar ao infinito, desde algumas horas até alguns milhares de séculos. Não há um extremo limite estabelecido para o estado de erraticidade, mas uma coisa é certa, nunca é perpétuo.

- Quer dizer então, que o espírito pode reencarnar imediatamente após ter morrido o corpo físico, como pode demorar muito tempo?

R. Exatamente, você entendeu bem. Na questão 224a de O Livro dos Espíritos, consta que este tempo pode ser de algumas horas até alguns milhares de séculos. Porém, normalmente, o retorno à carne ocorre após intervalos de tempo mais ou menos longos.

- Gostaria de saber se na erraticidade o espírito tem alguma missão a cumprir ou isso somente ocorre quando encarnado?

R. Pode acontecer em ambas as situações. Como lhe disse, há trabalhos, incluindo missões que podem ser desempenhadas por espíritos desencarnados, especialmente os mais superiores que auxiliam a se cumprirem os desígnios divinos, quer na Terra, como também fora dela.

- Poderia citar alguns exemplos destas ocupações?

R. Sim, claro. Entenda antes, que as ocupações são adequadas ao grau de adiantamento dos espíritos. Uns percorrem os mundos, se instruem e preparam para nova encarnação. Outros, mais adiantados, se ocupam com o progresso, dirigindo os acontecimentos e sugerindo ideias que lhe sejam benéficas, outros tomam sob sua tutela os indivíduos, as famílias, as reuniões, as cidades e os povos, dos quais se constituem os anjos guardiães, os gênios protetores e os Espíritos familiares. Outros, finalmente, presidem aos fenômenos da Natureza, de que se fazem os agentes diretos.

- E os espíritos abaixo na escala evolutiva? Quais são suas ocupações?

R. A maioria deles se intromete em nossas ocupações e diversões. Os impuros ou imperfeitos aguardam, em sofrimentos e angústias, o momento em que Deus possa proporcionar-lhes meios de retomarem o caminho reto e se adiantarem.

- E isso os torna felizes? A propósito, há também espíritos errantes infelizes?

R. Cumprir uma missão em nome de Deus é sim motivo de muito júbilo para os espíritos, mormente se a desempenham a contento. Por outro lado, não são poucos os que, infelizmente, sofrem. Sofrem por efeito das paixões que conservam e de acordo com o grau de lucidez e desmaterialização que já atingiram, percebem o que lhes faltam para serem felizes e, desde então, procuram os meios de alcançá-lo. Outros tantos, que ainda não alcançaram a luz que lhes abram os “olhos de ver”, mantêm-se e, às vezes comprazem-se, em situação de espíritos apáticos e infelizes.     

- Entendido. Alguma mensagem para encerrar?

R. Vamos encontrar na obra Nosso Lar o conselho de Clarêncio para André Luiz quando este é convidado por Lísias a morar em sua casa e que deve servir de modelo para todos nós:

“Não perca tempo. O interstício das experiências carnais deve ser bem aproveitado.” 

- Obrigado pelos ensinamentos.

R. Eu quem lhe agradeço. Abraço e até a próxima.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

  Médium e Mediunidade   Questionados sobre que definição se pode dar dos Espíritos, na questão 76 de O Livro dos Espíritos, Kardec obte...