segunda-feira, 4 de agosto de 2025

 

São chegados os tempos I – A Gênese

 

A Gênese, o 5º livro das obras básicas completa neste ano de 2025, 157 anos desde seu lançamento. Publicado em 01 de agosto de 1868, a obra reforça o aspecto científico do Espiritismo.

Realizando breve reflexão sobre o último capítulo do livro A Gênese denominado “São Chegados os tempos”, Kardec propõe-se a analisar o significado das palavras que dão nome ao capítulo. Segundo o codificador, todos estes acontecimentos são cumprimento das leis da Natureza, aliás como no artigo da semana passada, ao tratar das Revoluções do Globo, encontramos a serena reflexão de Kardec, atribuindo-as ao atendimento de desígnios superiores há muito estabelecidos, não havendo nada de místico ou de sobrenatural, como representassem, tais ocorrências, subversão das leis Divinas.

Nos parece que a Humanidade deve progredir e elevar-se tanto no aspecto intelectual quanto no moral. No que concerne ao primeiro aspecto, temos visto claramente grandes avanços, principalmente sob o ponto de vista das ciências e do bem-estar material. Ainda que alguém possa argumentar que estas conquistas estejam muito mal distribuídas enquanto posse dos seres humanos, e no qual concordamos, não se há de negar que as conquistas estão por aqui e são fruto do trabalho intelectual da criatura humana.

Resta-nos verificar como tem sido usado e democraticamente (para usar uma palavra atual, um tanto desgastada), espalhada para toda a população. Neste segundo aspecto, o do maior compartilhamento dos bens materiais, já não irá depender tanto o avanço intelectual da criatura, que como concluímos, vai indo bem. Falta ainda à humanidade um grande progresso a realizar que propiciará a todos fraternidade, caridade e solidariedade e que é o progresso moral.

Como se percebe em todo o planeta, os países e sociedades rodeados de todo o bem-estar material, os países mais ricos, vamos assim considerar, ainda não são felizes e estão envolvidos em guerras, conflitos internos e externos que só parecem aumentar. De certo modo, todos os povos verificam que aliado ao bem-estar material, o moral deve ser o complemento natural para que todos avancem em prol da regeneração dos povos no planeta.

Todos conseguirão alcançar juntos este equilíbrio entre o intelectual e o moral? Claro que não. Esta melhora passa por um trabalho íntimo de superação de cada criatura que não se realiza de um momento para outro e nem ao mesmo tempo.

Kardec vai afirmar a dinâmica desta renovação, desta forma:

 

Mas, uma mudança tão radical como a que se está elaborando não pode realizar-se sem comoções. Há, inevitavelmente, luta de ideias. Desse conflito forçosamente se originarão passageiras perturbações, até que o terreno se ache aplanado e restabelecido o equilíbrio. É, pois, da luta das ideias que surgirão os graves acontecimentos preditos e não de cataclismos ou catástrofes puramente materiais. Os cataclismos gerais foram consequência do estado de formação da Terra. Hoje, não são mais as entranhas do planeta que se agitam: são as da Humanidade.

 

Entendemos que, embora ainda sofrendo do natural processo de amadurecimento, a Terra ainda não está totalmente livre das revoluções que periodicamente a visitam, como vimos no artigo da semana passada, temos que considerar que o ser espiritual no seu processo de amadurecimento, também sofre das convulsões, sejam elas individuais e/ou coletivas, que a matéria experimenta. Kardec, no capítulo estudado assim se refere:

 

“A efervescência que por vezes se manifesta em toda uma população, entre os homens de uma mesma raça, não é coisa fortuita, nem resultado de um capricho; tem sua causa nas leis da Natureza. Essa efervescência, inconsciente a princípio, não passando de vago desejo, de aspiração indefinida por alguma coisa melhor, de certa necessidade de mudança, traduz-se por uma surda agitação, depois por atos que levam às revoluções sociais, que, acreditai-o, também têm sua periodicidade, como as revoluções físicas, pois que tudo se encadeia. Se não tivésseis a visão espiritual limitada pelo véu da matéria, veríeis as correntes fluídicas que, como milhares de fios condutores, ligam as coisas do mundo espiritual às do mundo material.”

 

Importante ressaltar que tais mudanças operam nos dois lados da vida: o material e o espiritual. Vejamos como Kardec trata deste aspecto concernente ao assunto das mudanças no Globo:

 

“...o mundo dos Espíritos, mundo que vos rodeia, experimenta o contrachoque de todas as comoções que abalam o mundo dos encarnados. Digo mesmo que aquele toma parte ativa nessas comoções. Nada tem isto de surpreendente, para quem sabe que os Espíritos fazem corpo com a Humanidade; que eles saem dela e a ela têm de voltar, sendo, pois, natural se interessem pelos movimentos que se operam entre os homens. Ficai, portanto, certos de que, quando uma revolução social se produz na Terra, abala igualmente o mundo invisível, onde todas as paixões, boas e más, se exacerbam, como entre vós.”

 

Os tempos em que presentemente vivemos exibem verdadeira confusão geral, onde as revoluções e tormentos físicos, aliadas às comoções de ordem moral que denotam uma “aparente” desordem (inconcebível com a ideia de um Deus Pai, justo e bom), desafia-nos todos a testar a fé no porvir. São todos eles desafios necessários para que a Humanidade seja reconstituída sobre novas bases que haverão de conduzi-la a novas etapas de progresso.

 

(*) Todos os grifos são nossos

 

Referência

(1) Kardec, Allan. A Gênese. Os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro da 5ª edição francesa. 25ª ed.  Rio de Janeiro. Editora FEB, 1944. 424p.

 

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