São chegados os tempos I – A Gênese
A Gênese, o 5º livro das obras básicas
completa neste ano de 2025, 157 anos desde seu lançamento. Publicado em 01 de
agosto de 1868, a obra reforça o aspecto científico do Espiritismo.
Realizando breve reflexão sobre o
último capítulo do livro A Gênese
denominado “São Chegados os tempos”, Kardec propõe-se a analisar o significado
das palavras que dão nome ao capítulo. Segundo o codificador, todos estes
acontecimentos são cumprimento das leis da Natureza, aliás como no artigo da
semana passada, ao tratar das Revoluções do Globo, encontramos a serena
reflexão de Kardec, atribuindo-as ao atendimento de desígnios superiores há
muito estabelecidos, não havendo nada de místico ou de sobrenatural, como
representassem, tais ocorrências, subversão das leis Divinas.
Nos parece que a Humanidade
deve progredir e elevar-se tanto no aspecto intelectual quanto no moral. No que
concerne ao primeiro aspecto, temos visto claramente grandes avanços,
principalmente sob o ponto de vista das ciências e do bem-estar material. Ainda
que alguém possa argumentar que estas conquistas estejam muito mal distribuídas
enquanto posse dos seres humanos, e no qual concordamos, não se há de negar que
as conquistas estão por aqui e são fruto do trabalho intelectual da criatura
humana.
Resta-nos verificar como tem
sido usado e democraticamente (para usar uma palavra atual, um tanto
desgastada), espalhada para toda a população. Neste segundo aspecto, o do maior
compartilhamento dos bens materiais, já não irá depender tanto o avanço
intelectual da criatura, que como concluímos, vai indo bem. Falta ainda à
humanidade um grande progresso a realizar que propiciará a todos fraternidade,
caridade e solidariedade e que é o progresso moral.
Como se percebe em todo o
planeta, os países e sociedades rodeados de todo o bem-estar material, os
países mais ricos, vamos assim considerar, ainda não são felizes e estão
envolvidos em guerras, conflitos internos e externos que só parecem aumentar.
De certo modo, todos os povos verificam que aliado ao bem-estar material, o
moral deve ser o complemento natural para que todos avancem em prol da
regeneração dos povos no planeta.
Todos conseguirão alcançar
juntos este equilíbrio entre o intelectual e o moral? Claro que não. Esta
melhora passa por um trabalho íntimo de superação de cada criatura que não se
realiza de um momento para outro e nem ao mesmo tempo.
Kardec vai afirmar a dinâmica
desta renovação, desta forma:
Mas, uma mudança tão
radical como a que se está elaborando não pode realizar-se sem comoções. Há,
inevitavelmente, luta de ideias. Desse conflito forçosamente se originarão
passageiras perturbações, até que o terreno se ache aplanado e restabelecido o
equilíbrio. É, pois, da luta das ideias que surgirão os graves
acontecimentos preditos e não de cataclismos ou catástrofes puramente materiais.
Os cataclismos gerais foram consequência do estado de formação da Terra. Hoje,
não são mais as entranhas do planeta que se agitam: são as da Humanidade.
Entendemos que, embora ainda
sofrendo do natural processo de amadurecimento, a Terra ainda não está
totalmente livre das revoluções que periodicamente a visitam, como vimos no
artigo da semana passada, temos que considerar que o ser espiritual no seu
processo de amadurecimento, também sofre das convulsões, sejam elas individuais
e/ou coletivas, que a matéria experimenta. Kardec, no capítulo estudado assim
se refere:
“A efervescência que
por vezes se manifesta em toda uma população, entre os homens de uma mesma
raça, não é coisa fortuita, nem resultado de um capricho; tem sua causa nas
leis da Natureza. Essa efervescência, inconsciente a princípio, não
passando de vago desejo, de aspiração indefinida por alguma coisa melhor, de
certa necessidade de mudança, traduz-se por uma surda agitação, depois por
atos que levam às revoluções sociais, que, acreditai-o, também têm sua
periodicidade, como as revoluções físicas, pois que tudo se encadeia. Se
não tivésseis a visão espiritual limitada pelo véu da matéria, veríeis as
correntes fluídicas que, como milhares de fios condutores, ligam as coisas do
mundo espiritual às do mundo material.”
Importante ressaltar que tais mudanças
operam nos dois lados da vida: o material e o espiritual. Vejamos como Kardec
trata deste aspecto concernente ao assunto das mudanças no Globo:
“...o mundo dos Espíritos, mundo que
vos rodeia, experimenta o contrachoque de todas as comoções que abalam o mundo
dos encarnados. Digo mesmo que aquele toma parte ativa nessas comoções.
Nada tem isto de surpreendente, para quem sabe que os Espíritos fazem corpo com
a Humanidade; que eles saem dela e a ela têm de voltar, sendo, pois, natural
se interessem pelos movimentos que se operam entre os homens. Ficai,
portanto, certos de que, quando uma revolução social se produz na Terra,
abala igualmente o mundo invisível, onde todas as paixões, boas e más, se exacerbam,
como entre vós.”
Os tempos em que presentemente vivemos
exibem verdadeira confusão geral, onde as revoluções e tormentos físicos,
aliadas às comoções de ordem moral que denotam uma “aparente” desordem (inconcebível
com a ideia de um Deus Pai, justo e bom), desafia-nos todos a testar a fé no
porvir. São todos eles desafios necessários para que a Humanidade seja
reconstituída sobre novas bases que haverão de conduzi-la a novas etapas de
progresso.
(*) Todos os
grifos são nossos
Referência
(1) Kardec, Allan. A Gênese.
Os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Tradução de Guillon Ribeiro
da 5ª edição francesa. 25ª ed. Rio de Janeiro. Editora FEB, 1944.
424p.
Nenhum comentário:
Postar um comentário