segunda-feira, 9 de junho de 2025

 

Aprendendo sobre o Perispírito - I

 

Ao citar pela primeira vez o termo “perispírito”, Allan Kardec, que o cunhou, assim se refere na Introdução de O Livro dos Espíritos:

 

“Há no homem três coisas: 1º, o corpo ou ser material análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital; 2º, a alma ou ser imaterial, Espírito encarnado no corpo; 3º, o laço que prende a alma ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o Espírito.

Tem assim o homem duas naturezas: pelo corpo, participa da natureza dos animais, cujos instintos lhe são comuns; pela alma, participa da natureza dos Espíritos. O laço ou perispírito, que prende ao corpo o Espírito, é uma espécie de envoltório semimaterial. A morte é a destruição do invólucro mais grosseiro. O Espírito conserva o segundo, que lhe constitui um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal, porém que pode tornar-se acidentalmente visível e mesmo tangível, como sucede no fenômeno das aparições.

Na segunda referência que faz ao perispírito ou corpo espiritual, Kardec, na questão 93 do citado livro, o define e já nos indica uma característica dele que, na resposta, pode passar desapercebida, Vejamos:

 

O Espírito, propriamente dito, nenhuma cobertura tem, ou, como pretendem alguns, está sempre envolto numa substância qualquer?

R. “Envolve-o uma substância, vaporosa para os teus olhos, mas ainda bastante grosseira para nós; assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira.

 

Depois compara:

Envolvendo o gérmen de um fruto, há o perisperma; do mesmo modo, uma substância que, por comparação, se pode chamar perispírito, serve de envoltório ao Espírito propriamente dito.

 

A resposta dos espíritos superiores não deixa dúvida: “assaz vaporosa, entretanto, para poder elevar-se na atmosfera e transportar-se aonde queira”, ou seja, há limitação de deslocamento do períspirito em razão da sua maior ou menor materialidade, a qual representa a condição evolutiva do espírito. Está implícita na resposta, ou explícita para aquele que consegue extrair o espírito da letra, a existência da lei da gravidade, nas dimensões que circundam a crosta.

Questão de densidade da matéria.

Ou seja, (de novo) o espírito desencarnado ou encarnado, em processo de desdobramento durante o sono, não pode ir onde queira sua vontade. Se fosse assim, alcançar os páramos celestiais após a morte seria fácil. Bastaria o desejo ardente de subir para se safar nas dimensões inferiores, das consequências dos atos praticados contra a lei divina.

Em outras palavras, quanto menos evolução espiritual, mais matéria; quanto maior a evolução do espírito, menos matéria.

 

No capítulo 33 do livro Nosso Lar, “Curiosas observações”, André Luiz se assusta ao visualizar dois seres, a ponto de fugir:

 

...divisei ao longe dois vultos enormes que me impressionaram vivamente. Pareciam dois homens de substância indefinível, semiluminosa. Dos pés e dos braços pendiam filamentos estranhos, e da cabeça como que se escapava um longo fio de singulares proporções. Tive a impressão de identificar dois autênticos fantasmas. Não suportei. Cabelos eriçados, voltei apressadamente ao interior.

 

Nessa hora ele questiona Narcisa, sua companheira de trabalho mais experiente, que lhe tranquiliza explicando:

 

“Trata-se de poderosos Espíritos que vivem na carne em missão redentora e podem, como nobres iniciados da Eterna Sabedoria, abandonar o veículo corpóreo, transitando livremente em nossos planos. Os filamentos e fios que observou são singularidades que os diferenciam de nós outros. Não se arreceie, portanto. Os encarnados, que conseguem atingir estas paragens, são criaturas extraordinariamente espiritualizadas, apesar de obscuras ou humildes na Terra.”

 

Atente ao nosso grifo. Não é para qualquer um aportar na cidade Nosso Lar por conta própria, sem que seja conduzido em dolorosas e sofridas condições para as câmaras de retificação do ministério do Auxílio. André Luiz, autor espiritual de valorosa obra pela mediunidade apostolar de Chico Xavier, chegou carregado de maca com auxílio de “dois servos desvelados”, após perambular por mais de 8 anos no Umbral.

 

Por outro lado, os irmãos referidos no texto, foram designados por Narcisa como “poderosos Espíritos em missão”; “extraordinariamente espiritualizados”. Não resta dúvida que, em razão desta condição espiritual, a menor densidade material de seus corpos espirituais aliados a outras condições, permitiram que se deslocassem em consideráveis distâncias, mesmo encarnados.

Também os fios e filamentos que André visualizara pendendo das mãos, pés e cabeça das duas nobres entidades, nada mais eram que o conhecido cordão prateado que representam prolongamentos do corpo espiritual ou perispírito.

Realmente não é para qualquer um.

Estudemos sobre o Perispírito para nosso melhor entendimento dos fatos espirituais e de importantes questões referentes à mediunidade, assim como, para não sermos pegos assustados como nosso prezado companheiro André Luiz.

 

(*) Todos os grifos são nossos

 

Referências

(1) Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 67ª ed.  Brasília. Editora FEB, 1944. 494p.

(2) Luiz, André. Nosso Lar. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 45ª ed. Brasília. Editora FEB, 1944. 281p.


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